Ultimamente só se falam nos muitos argumentos a favor dos e-books
ou livros eletrônicos. Embora tenham surgido em 1971, pouco a pouco tem se
tornado popular devido a proliferação dos dispositivos (tablets, smartphones,
e-readers etc). No entanto, em meio a este turbilhão existem os céticos que
profetizam que tais dispositivos extinguirão os livros impressos e
consequentemente as bibliotecas.
Toda esta revolução não deixa de ser interessante, porque como
bibliotecário, a leitura de livros tem uma importância significativa em minha
vida e tenho algumas centenas deles em meu apartamento. A princípio, depois de
certa resistência - mesmo sendo um entusiasta da tecnologia - resolvi me
enveredar neste mundo "desconhecido" e ter minha própria opinião
sobre o assunto.
Lembro-me da primeira vez que ouvi falar de um tablet, foi em
janeiro de 2010, com o anúncio de lançamento por Steve Jobs, de um tal iPad.
Mal sabíamos, os pobres mortais, que aquilo era o início de mais uma revolução
nos costumes.
Em novembro de 2011 adquiri meu primeiro tablet, um modelo
econômico, entretanto, mesmo com seus inúmeros recursos, o que realmente me
motivou a comprá-lo foi a opção de leitura de e-books. Como não poderia ser de
outra forma, minha estreia se deu com a biografia de Steve Jobs, escrita por
Walter Isaacson. Em um trecho tenso da obra, o autor relata uma conversa de
Jobs com Barack Obama, onde Jobs declara "Todos os livros, o material
didático e os sistemas de avaliação deveriam ser digitais e interativos,
personalizados para cada aluno e com feedback em tempo real." Seria este
um prenúncio do fim, vindo de uma mente inquieta?
Ainda não conhecemos totalmente até onde estes sistemas nos
levarão, o que posso adiantar é que a leitura no tablet tem suas
peculiaridades, a primeira, é que não tive de transportar 1 kg das 607 páginas
do livro em papel de Isaacson, além disso tem as opções de adequar o tamanho da
letra, ler no escuro, controlar o brilho da tela, fazer anotações e marcar
páginas, exemplos simples entre tantos, mas que demonstram a praticidade da
leitura com os citados recursos. Não me julguem antecipadamente, adorei a
experiência e recomendo a todos, mas em tudo existem prós e contras, vantagens
e desvantagens. Continuarei lendo livros em papel? Claro que sim, nada
substituirá a experiência estética, lúdica, espiritual da leitura em livros
impressos. E-books são um item a mais, no imenso ecossistema da leitura. Eu e
minha esposa adoramos viajar, oportunamente, eu levo meu livro impresso, ela, o
de sua preferência, o tablet também, como um complemento tecnológico e lado a
lado, sem superior ou inferior, sem anular um ao outro, ambos distintos,
coexistindo e prosperando pacificamente, porém essenciais nos dias de hoje. E
mais, acredito que cada leitor deve saber o que é melhor para si e o que pode
se adequar em seu contexto. Na área acadêmica, por exemplo, alunos de
arquitetura poderiam evitar o peso em suas mochilas dos "Benevolos",
"Neuferts", "Gombrichs" etc
A medida que vemos a tecnologia avançando, em contrapartida, a
resistência ainda é grande, mas a história parece se repetir, pois já no século
XV, Johannes Gutenberg sofria fortes criticas por parte dos copistas que eram
contra seus tipos móveis. Ironicamente, o maior catálogo de e-books gratuitos
do mundo chama-se Projeto Gutenberg, que inclusive disponibiliza inúmeras obras
em português.
Grandes personalidades literárias deixaram a resistência de lado,
como Ray Bradbury, que aos 91 anos, permitiu que seu clássico "Fahrenheit
451" fosse publicado na versão e-book. Aos 79 anos, Umberto Eco ao invés
de carregar 20 livros em uma turnê pelos Estados Unidos, comprou um iPad e está
adorando a experiência, não poupando elogios.
Nos Estados Unidos, uma nação com tecnologia em seu DNA, a
dinâmica é outra. Existem escolas sem bibliotecas físicas, porém com
bibliotecários digitais, “bibliotecas antenadas” - especialmente públicas - que
já emprestam milhares de obras eletrônicas normalmente. É comum encontrar
leitores com seus e-readers em transportes públicos, praças, praias etc.
No Brasil, a aquisição e utilização deste tipo de tecnologia ainda
são bem discretos, porém a Amazon já tem planos de comercializar o seu
maravilhoso aparelhinho e-reader por terras tupiniquins, trata-se do Kindle.
Por considerar as taxas de importação exorbitantes, prefiro por enquanto
esperar o início das vendas por aqui.
Portanto, vem a questão, os dispositivos eletrônicos substituirão
os bibliotecários e bibliotecas? Uma das funções dos bibliotecários é organizar
informação, independente dos suportes em que se encontram. As bibliotecas
precisam se adaptar a este caminho sem volta e ir ao encontro das preferências
dos novos leitores. Os livros impressos vão acabar? Não sei, talvez. Existe um
lobby forte de ecochatos, que estão por aí, remodelando a sociedade já faz um
bom tempo.
Por fim, independente dos formatos, livros sempre existirão,
livros sempre serão fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade,
devemos pensar na integração dessa transmidialidade dos livros. A magra
estatística de livros lidos por ano em nosso país indica uma subnutrição
cultural aguda, e isto sim, é um problemaço a ser resolvido, pois como
“tuítaria” Monteiro Lobato se estivesse vivo, em ser perfil no microblog: “Um
país se faz com homens, mulheres e livros eletrônicos.”
Rendam-se! A festa nunca é tão divertida quanto parece do lado de
fora. A história dos livros continua a ser escrita. É só ligar e ler!
@rodneyeloy é bibliotecário universitário e responsável pelo
Pesquisa Mundi
Fonte: Pesquisa Mundi
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