Márcio Roberto Sousa Pereira, 31, é
professor da escola da comunidade Tracajatuba, em Macapá (AP), onde ajudou a
erguer a sede da biblioteca Vaga Lume. O educador conta que cada morador colaborou
como podia na construção - com uma telha, alguns tijolos ou a própria força de
trabalho.
As histórias dos livros também vão à casa
dos moradores. Os mediadores de leitura escolhem um local, espalham em esteiras
o acervo literário e leem para criança, adulto e idoso. Nesses encontros, netos
leem para seus avós.
"Os livros são uma janela para o
mundo", diz o mediador da Vaga Lume, associação criada pela finalista do
Prêmio Empreendedor Social 2013 Sylvia Guimarães que, por meio da leitura, da escrita
e da oralidade, faz intercâmbios culturais e apoia a autogestão de bibliotecas
comunitárias, que promovem o protagonismo de comunidades rurais da Amazônia.
Márcio Roberto Sousa Pereira é professor da escola da comunidade Tracajatuba, em Macapá (AP) |
Leia seu depoimento:
”Quando o projeto veio para a comunidade,
por volta de 2009, nosso deficit de leitura era grande. E a quantidade de
livros na escola era pequena. O acervo que veio da Vaga Lume, na primeira vez,
já chamava a atenção. As crianças gostaram demais e vieram para a biblioteca.
No começo, a biblioteca funcionava na
escola. Depois, foi para a casa de uma moradora, da Jucirana, mas [o local] era
aberto, não tinha telhado, e, na época da chuva, não dava para fazer as
mediações de leitura. Fomos para a sede comunitária, que era usada para
reuniões e não era adequada também.
Em 2011, conseguimos R$ 500 para fazer uma
biblioteca na comunidade. Só que o dinheiro não era suficiente. Então,
convidamos todo mundo para construir a biblioteca. Várias pessoas colaboraram:
tinha gente que doava pedra para fazer a fundação; outros, areia e tinta. Teve
até gente que doou duas telhas.
Quando a gente estava construindo, as
pessoas passavam e perguntavam: 'O que é isso? Quem está pagando?'. Eu
explicava que é a biblioteca da comunidade e que todo mundo estava
contribuindo, podia ser até com uma pedrinha. Teve quem pregasse duas ou três
tábuas.
No primeiro mês que abrimos, tivemos mil
empréstimos de livros. À tarde, por volta das 16h, fica uma sombra imensa aqui
na porta. A gente estica as esteiras, espalha os livros e as crianças vêm ler.
A gente também leva os livros para outras
comunidades, faz mediações de leitura. A maior parte dos idosos é analfabeta, e
as crianças leem para eles.
O mais bonito é ver as pessoas chorando. A
gente chora junto. Eles mandam todo dia o filho para a escola. Mas, quando o
filho chega em casa e está lendo um livro assim, é difícil segurar, é muito
emocionante.
Os livros são uma janela
para o mundo. Aqui eles enxergam o mundo."
Fonte: http://bit.ly/1aOGvft