Professora usa cordel e incentiva leitura no sertão do Ceará


O trecho acima fez parte de um cordel coletivo produzido em 2006 por alunos da oitava série – atual nono ano -, da Escola de Ensino Fundamental João Pinto Magalhães, localizada em Cágado, localidade de São Gonçalo do Amarante, a 60 km de Fortaleza. Os estudantes que produziram o folheto tinham acabado de perder um colega de sala num afogamento, e o método de ensino de sua professora Francisca das Chagas, de utilizar a literatura cordelista para incentivar a escrita e leitura, foi a forma encontrada pelos jovens para homenagear o colega.

Cordel: Rimas que encantam

Francisca, mais conhecida como Chaguinha, ensinava em 2003 as disciplinas de língua portuguesa e artes. Percebendo o desinteresse e dificuldade de seus alunos em aprender a ler e escrever, quis inovar na forma de ensinar. “Procurei algo que pudesse atrair neles a vontade de ler. Então pensei por um bom tempo e cheguei a conclusão que deveria repassar aquilo que eu gostasse também. O objeto escolhido foi o cordel”, recorda. Assim foi criado o projeto Cordel: Rimas Que Encantam, que lhe rendeu em 2006 o título educadora do ano pelo Prêmio Victor Civita.

Primeiros versos

Como não tinha os livretos, a professora improvisou a busca, e foi de porta em porta nas casas da região procurando cordéis com os moradores mais antigos. “Pelo nome eles não conheciam, mas quando eu perguntava pelo ‘rumance’, lá se vinham eles com aqueles folhetos bem velhinhos, mas já era um começo”, recorda. Chaguinha colheu alguns e levou para a sala.

Em posse dos livretos, a professora passou a declamar os versos escritos. A entonação típica do cordel reproduzida por Chaguinha surpreendeu os estudantes. “As primeiras leituras eu fazia com eles, depois dei pra eles folhearem, expliquei as origens, de onde vieram e eles começaram a gostar”.

Filhos de pais analfabetos ou semi-analfabetos, não tinham em casa incentivo para a leitura. Com o método, os alunos passaram a ler e escrever melhor, descobriram que a língua falada é diferente da escrita, e começaram a produzir seus próprios folhetos.

A professora levava ainda aos estudantes temáticas de relevância nacional, como política e economia. Como a escola se localiza no sertão, o contato com o mundo exterior se tornava difícil, seja pela falta de meios de comunicação, ou ausência de quem informe o que se passa além da zona rural.

Três anos após a inserção do projeto, Chaguinha e seus alunos elaboraram um cordel coletivo apresentado em uma noite de cordelismo aberta a comunidade. “Depois desse momento resolvi que as pessoas precisavam conhecer essa metodologia, esse regate da cultura que começava a inspirar vários jovens. Mandei minha proposta para o prêmio Civita de Educação, concorri com professores do Brasil todo e ganhei”, relembra.

A premiação abriu portas para professora que, no ano seguinte, recebeu o convite para coordenar a escola João Moreira Barroso, na localidade de Salgado dos Moreiras. Pouco tempo depois tornou-se diretora, o que possibilitou a educadora inserir seu método de aprendizagem com cordel em outra instituição.

“Repassei aos professores e eles aderiram a proposta com muita alegria e vontade. Hoje, duas das principais escolas daqui melhoraram o desempenho graças a cultura do cordel, é uma alegria”, conclui.

Campanha quer fomentar leitura infantil

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou a campanha Receite um Livro, cujo objetivo é estimular o aumento das conexões cerebrais das crianças por meio da leitura, que pode ser feita pelos pais ou por pessoas próximas. Esta recomendação médica já é uma tendência no exterior e começa agora a ser difundida no Brasil.

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A SBP fortalecerá a ação dos pediatras nesse sentido, distribuindo a publicação “Receite um Livro: Fortalecendo o Desenvolvimento e o Vínculo”, que reunirá conteúdo atualizado e baseado em evidências científicas sobre os impactos da leitura no desenvolvimento infantil, bem como orientações de como incluir o estímulo à leitura na prática clínica. Os pediatras também ganharão um kit de livros infantis.
Desenvolvimento
Há quase meio século, a observação científica dos recém-nascidos e das crianças pequenas levou à conclusão de que o desenvolvimento do cérebro não é apenas rápido e extenso no início da vida, mas que é altamente sensível aos cuidados e estímulos que os pais e outros fornecem. Com o advento posterior da tecnologia da imagem cerebral, esses achados finalmente começaram a atrair a atenção dos formuladores de políticas públicas, em meados dos anos 1990.
“No entanto, apenas começamos a considerar seriamente essas descobertas no desenvolvimento infantil. Ainda pode ser uma surpresa ou uma novidade para alguns que a leitura para bebês, nos primeiros seis meses de vida, contribui para o desenvolvimento do cérebro e do sucesso escolar posterior”, diz o pediatra Moises Chencinski.
Embora a leitura possa ser uma força poderosa para o desenvolvimento inicial do cérebro, a natureza das conversas entre pais e bebês, durante a leitura e durante outras interações importa tanto quanto o próprio ato de ler. Mesmo nas primeiras semanas de vida, pais e crianças, no momento da leitura, estão exercitando características extremamente sutis de vocalizações, gestos e expressões faciais. Estas são as interações que estimulam o desenvolvimento inicial do cérebro.
Prazer
“Os bebês têm períodos curtos de atenção, são facilmente distraídos, por isso a leitura inicial deve ser de textos curtos. Porque o mais importante é o prazer que eles sentem em ouvir a leitura, observar o contador e suas expressões faciais e apontar para as imagens da página, o que também serve de recompensa para os pais, pois reforça e perpetua este tempo de aprender juntos”, explica Moises Chencinski.

Menino vende seus desenhos para ajudar biblioteca






As araras e paredes de uma famosa loja de roupas de Porto Alegre vão exibir 30 desenhos produzidos por um menino de sete anos. A inusitada exposição quer arrecadar fundos para melhorar a biblioteca do local onde sua mãe trabalha.


O Dia da Criança do Bem, que será realizado a partir das 15h do dia 10, na loja A Mulher do Padre (Rua Padre Chagas, 300), tem como protagonista Theodoro Saueressig Hackner, o Theo. Filho da assessora de imprensa Debora Saueressig, 38 anos, ele acostumou-se a passar algumas horas por semana no trabalho da mãe, um instituto de psicanálise — ela o leva junto quando precisa participar de alguma reunião. O guri acabou se afeiçoando ao lugar. Virou amigo do auxiliar de biblioteca, Francis Gomes, 34 anos, e seguidamente o ajuda com a máquina de xerox.



— Ele é um menino incrível, que sempre tem atitudes muito humanas. Trata todos como grandes amigos e faz questão de ter uma relação próxima — diz Francis.



Nos últimos meses, Theo começou a achar que as prateleiras da biblioteca estavam velhas e muito cheias. Ficou preocupado: seria possível preenchê-las com mais livros? Também sentiu a necessidade de colocar um novo mapa na parede, criando um ambiente mais amigável para quem quer ler e estudar. Na última terça-feira, decidiu pôr as mãos à obra.



— Como é um lugar onde eu gosto de desenhar, achei que poderia usar desenhos para ajudar a biblioteca. Então, criei esse projeto beneficente. Como garantia a quem comprar, fiz um contrato de “compra e venda”, assinado até pelo Francis, informando que todo o lucro será revertido para lá. E logo comecei a produzir as obras — conta Theo, que, desde então, gasta entre folhas e canetinhas o tempo livre.



A mãe achou graça, mas no mesmo dia viu que o assunto era sério. Os dois foram à Mulher do Padre para escolher o presente de aniversário do pai de Theo, o professor de história Thiago Hackner. Com os desenhos embaixo do braço, Theo contou à dona da loja, a empresária Joana Henrich, sobre seu projeto. Ofereceu um de seus desenhos, por R$ 1. Joana comprou e o mostrou aos demais funcionários. Em poucos minutos, Theo já tinha R$ 6. Só o estagiário não comprou.



— Os colegas brincaram que estagiário não tem dinheiro para comprar obra de arte. Comovido com a situação, Theo foi até sua mãe e disse que daria um desenho de graça a ele: “Seria injusto todos terem um, menos o estagiário”. Mas quem acabou comovida fui eu, e, por isso, decidi contar essa história no Facebook — relata Joana.



A mistura de empreendedorismo e sensibilidade do menino geraram centenas de curtidas, compartilhamentos e comentários.



— Comecei a receber pedidos de filiais da loja em outras cidades e até em outros Estados para enviar os desenhos do Theo e ajudar no projeto — revela Joana.



Para organizar a venda — e já no clima de Dia das Crianças —, Joana, Debora e Theo resolveram montar um vernissage. A partir das 15h do dia 10, o menino estará a postos na loja do Moinhos de Vento para falar sobre cada um de seus desenhos e explicar o contrato de compra e venda. Até lá, vai criando novos. O que não parece ser esforço:


— Eu gosto tanto de desenhar porque é uma forma de colocar para fora todas as minhas ideias, todas as minhas imaginações. Desenho desde os dois anos. Quando era menor, desenhava nas paredes e até no meu corpo. Gosto de desenhar monstros, batalhas e tudo o que se passa na minha cabeça. Espero que as pessoas gostem.