Biblioteca de São Paulo

Foto: Equipe BSP
Espaço promove oficinas de inclusão digital gratuita para terceira idade
Serviços bancários, compras, contatos com amigos e familiares… a Internet está cada vez mais presente na vida dos brasileiros. Nesse cenário, a população idosa ganha atenção especial, já que está cada vez mais conectada – pesquisa da empresa Telehelp, realizada em 2014, aponta que 66% dos idosos brasileiros utilizam a Internet. Logo, a demanda por métodos de ensino diferenciados para esse público é cada vez maior.


Pensando nesse cenário, a Biblioteca de São Paulo, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo realiza, no dia 23 de junho, a “Oficina de Celulares e Redes Sociais para Terceira Idade”. O objetivo é introduzir os primeiros passos dentro do universo dos smartphones e como utilizá-los para acessar as redes sociais.
Mensalmente, a Biblioteca de São Paulo realiza oficinas de informática para adultos com mais de 60 anos e oferece curso de informática básico. Em muitos casos, é o primeiro contato dos alunos com um computador.
Confira a programação das próximas semanas:
Dia 23 de junho
9h30 às 11h30 – Oficina Celulares e Redes Sociais (+60).
Os primeiros passos dentro do universo dos smartphones e como utilizá-los para acesso às redes sociais. Indicado para pessoas acima de 60 anos.
Com equipe BSP.
Inscrições por e-mail (agenda@bsp.org.br) ou no balcão de atendimento da biblioteca (de terça a sexta-feira, das 9h30 às 17h30)
Local: piso térreo.
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Todas as quartas-feiras
14h30 às 15h30 – Oficina de Informática para Adultos.
De maneira simples e lúdica, e inspirada por assuntos diversos, as principais ferramentas que o computador oferece para facilitar o dia-a-dia das pessoas serão apresentadas a adultos que não tem familiaridade com o universo digital. Com equipe BSP.
Local: piso superior.
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Todas as quintas-feiras
9h30 às 11h30 – Curso de Informática Básico (+60).
Permite aos participantes o primeiro contato com o computador, introduzindo-os ao mundo digital de forma simples e didática. Indicado para pessoas com mais de 60 anos. A atividade é realizada de 16 de julho a 24 de setembro. Inscrições por e-mail (agenda@bsp.org.br) ou no balcão de atendimento da biblioteca (de terça a sexta-feira, das 9h30 às 17h30), até o dia 14.
Com equipe BSP.
Local: piso térreo

Fernando Morais: mídia comum não acompanha a web


Foi com seu jeito simples e os inseparáveis óculos redondos que Fernando Morais recebeu a reportagem do Notícias do Dia para uma conversa no Hotel Sesc Cacupé, onde nesta quarta-feira fará uma palestra sobre a crise existencial no jornalismo. Envolto pela fumaça de seu charuto, o escritor e jornalista falou sobre o advento da internet e os rumos da comunicação. Também abordou a reaproximação dos governos de Cuba e Estados Unidos, a polêmica das biografias e a adaptação para o cinema de seu livro “Chatô, o rei do Brasil”, entre outros assuntos.


Em conversa no hotel Sesc Cacupá, escritor enfatizou a credibilidade dos jornalistas e da informação

:: Notícias do Dia - O tema da sua palestra é “Os rumos do jornalismo, a crise da mídia tradicional e credibilidade em tempos de redes sociais”. Como enxerga esse panorama?

Fernando Morais - Essa revolução que está acontecendo nas comunicações não tem paralelo, é uma transformação infinitamente mais profunda do que a gente viveu do rádio para a televisão nos anos 1950. Essa geração que está pintando vai ser, ao mesmo tempo, a coveira e a parteira... Os jornais estão emagrecendo cada dia mais e acho que a televisão também já está sendo vitimada pela revolução da internet. Isso está se processando com uma velocidade fora do comum, e essa geração precisa se preparar para isso.

Não é que o jornalismo está acabando, ele está sofrendo uma mutação profunda. Isso tem vantagens enormes, que é uma quebra dos monopólios sem dar um tiro e sem expropriar o jornal de ninguém. Se você estiver dando informação correta, precisa e inédita, vai aparecer gente para anunciar, porque você vai estar falando para uma quantidade grande de pessoas. Por outro lado, tem a desvantagem que a pessoa pode jogar na internet toda bobagem que passa na cabeça dela, inclusive mentiras. Tenho a impressão que vai haver uma seleção darwiniana nos meios de comunicação da internet, que vai demorar, e da qual vão sobreviver os que tiveram credibilidade.

:: ND - Isso terá implicações na prática, no ofício, do jornalismo?

FM- Vai trazer implicações saudáveis. Essa transformação vai obrigar o sujeito a pesquisar melhor se ele quiser estar no jogo, quiser disputar espaço, porque é o universo. Não é mais Floripa, Belo Horizonte ou São Paulo. É o universo. Você escreve em Floripa e é lido em Tóquio, em Hong Kong. No fundo, aí vai uma certa abstração... O que é que faz uma pessoa escrever bem, saber escrever? Em primeiro lugar é ler. Você só aprende a escrever lendo. Essa transformação também vai passar a exigir mais dos jornalistas, inclusive porque está deixando de existir um certo filtro entre o repórter e o leitor, que é o miolo da redação, que é o copydesk, o editor... Vai exigir mais dos profissionais, porque só vão ficar os que tiverem credibilidade.

Quando a televisão veio para o Brasil, quem é que fez televisão? As pessoas que faziam rádio. Elas continuaram, durante muito tempo, como uma adaptação do rádio. Agora, poucas pessoas já perceberam que a internet não é a transposição do jornalismo impresso para o eletrônico. Internet é muito mais imagem. Um exemplo disso foi o assassinato do [Muammar al-]Gaddafi, linchado publicamente. Ali em volta, estavam pessoas com celulares na mão filmando tudo e, minutos depois, aquilo estava no planeta inteiro. No dia seguinte, não tinha nenhum jornal do mundo que desse uma informação melhor do que a que você viu com os seus olhos. A imprensa convencional já não consegue mais acompanhar a internet.

:: ND - Como é escrever um relato jornalístico, equilibrando as informações com um texto mais próximo à literatura?

FM- Eu procuro dar aos meus livros um tratamento literário, mas que não é ficcional. É uma elegância. Você vê que o parágrafo está feio, escreve de novo. Isso te toma tempo, mas permite que você faça uma coisa detalhada. Por que sou tão detalhista? Quero que o camarada que esteja lendo um livro meu se sinta na cena. Pode até não ser relevante, mas acho que você transforma o texto numa coisa mais sedutora.

:: ND - Você tem equipe de apoio durante a pesquisa e apuração do tema de um livro?

FM - Varia de livro para livro. No caso do Chatô... O Chatô era um personagem, primeiro com uma vida muito longa, e segundo com a memória muito fragmentada pelo mundo. Não só pelo Brasil inteiro, porque ele tinha veículos em todos os lugares, de Santa Maria até a fronteira com a Guiana. Ele tinha jornal, rádio e televisão, foi político, embaixador, deu um colar de água marinha para a rainha da Inglaterra, encheu Londres de faixas em português, no dia da coroação: “Senhor Bonfim da Bahia, salve a rainha”... Se eu fosse fazer as 200 e tantas entrevistas pessoalmente, eu, provavelmente, estaria até hoje fazendo entrevista.

Quando estou diante de uma situação como essa do Châteaubriant, eu procuro pegar pesquisadores, em geral jovens jornalistas e historiadores. Não tenho equipe, eu contrato os profissionais pelo salário de mercado. Você pode ver nesses livros maiores, a lista de agradecimentos é interminável.

O ideal seria que o autor fizesse tudo, até porque chega determinado momento do trabalho que você detém tanta informação, que só você sabe fazer as perguntas. Não adianta pedir para outro fazer, porque a pessoa não tem o arcabouço que o autor já acumulou. Se o cara me diz uma mentira, eu posso dizer “não, não é bem assim”.

:: ND - Há cinco dias você teve um encontro com Gerardo Hernandez, o cabeça da Rede Vespa – projeto secreto de Cuba para espionar as organizações terroristas de extrema-direita na Flórida, formadas, na grande maioria, por cubanos anti-castristas exilados. Como foi esse encontro?

FM - Foi muito emocionante. Eu só tinha falado pessoalmente com um dos cinco [espiões cubanos] presos nos EUA. Eles estavam em diferentes prisões de segurança máxima, em cinco estados diferentes. O critério é de cada diretor da prisão, então, o único que eu consegui falar pessoalmente foi o Renê [Gonzalez], o primeiro a ser libertado. Com o Gerardo e os demais, eu só pude falar por telefone. Quando eles foram libertados, fiquei muito feliz e telefonei para todos.

Fazia 40 anos que eu não ia para Cuba e, agora, pela primeira vez, fui para passear com a minha netinha e um casal de amigos. Aí me ligaram dizendo que o Gerardo estava comemorando 50 anos de aniversário, que iriam fazer uma festa surpresa e que queriam que eu fosse conhecê-lo pessoalmente. Pô, uma tremenda emoção. Imagina um cara que estava condenado a duas perpétuas, mais 15 anos de prisão, e você ver ele ali, solto, feliz, com um bebezinho no colo... Foi muito emocionante.

:: ND - Como você viu a reaproximação dos governos dos EUA e de Cuba?

FM - Isso é bom para os dois lados, só é ruim para a extrema-direita de Miami. É um gesto muito corajoso do [Barack] Obama [presidente dos EUA], tanto que ele deixou para o segundo mandato, porque ele não pode mais ser candidato e não está mais sujeito ao beija-mão dos barões da política da Flórida, que são todos de direita.

Agora, não acabou ainda. O fundamental, que é o fim do bloqueio, ainda não aconteceu. Não depende do Obama, depende do Congresso, que é extremamente conservador, o que dificulta a aprovação do fim do bloqueio. A outra coisa, nesses dois pontos fundamentais que os EUA ainda precisam resolver, é a devolução de Guantánamo para os cubanos. Aí a gente zera a conta. Podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor nunca mais.

Ah! E os EUA têm uma dívida de prejuízos que o bloqueio causou a Cuba, de US$ 286 bilhões, que vão ter que pagar algum dia. De qualquer maneira, é positivo. A Guerra Fria acabou no dia 17 de dezembro, às 15h, na hora em que o Raul [Castro, presidente de Cuba] apareceu na televisão de um lado, e o Obama do outro, no mesmo instante. Ali acabou a Guerra Fria.

:: ND - Como enxerga o momento político na Europa?

FM - Tem o “Podemos” na Espanha, o Syriza na Grécia... Isso, evidentemente, vai ter boas conseqüências para todo mundo. Se a Grécia consegue sair do buraco sem ter que beijar a bota da comunidade européia, da Ângela Merkel, do FMI e do Banco Central Europeu, as pessoas vão dizer: “se um país pequeninho pôde fazer isso, por que é que não podemos fazer isso no Brasil, que tem uma economia muito maior?” O exemplo é muito bom. Bons ventos estão vindo da Europa.

:: ND - E os últimos acontecimentos políticos no Brasil e o papel da imprensa?

FM - A imprensa, com as exceções que a gente conhece, virou um partido político de direita, sem assumir isso. O famoso PIG [Partido da Imprensa Golpista]. O jornal, numa sociedade capitalista, você junta 10 pessoas, compra impressora e papel, contrata jornalistas e faz o jornal para defender suas idéias. Tem uma passagem no Chatô que é muito interessante, quando ele dá uma bronca no Davi Nasser porque ele fez um artigo dando um pau no Juscelino Kubitscheck. O Chatô o chamou e disse: “ô ‘seu’ Davi, – o Chatô chamava todo mundo de senhor – que história é essa do senhor escrever no Cruzeiro um artigo dando porrada no presidente JK?”. Ele disse: “mas doutor Assis, aquela é minha opinião, é uma coluna assinada”. “Se o senhor quer ter opinião, o senhor compre uma revista. Na minha revista, o senhor defende a minha opinião”.

É preciso deixar claro, sobretudo para o pessoal mais jovem, para não alimentar falsas ilusões e esperanças, imprensa está a serviço dos interesses e da ideologia de quem paga as contas no final do mês. Isso, em todos os lugares, inclusive em Cuba, na China, nos EUA, no Brasil. Aí vem, de novo, a internet como instrumento alternativo para você fugir dessa armadilha.

:: ND - Quem foi mais influente na comunicação no Brasil, Châteaubriant ou Roberto Marinho?

FM - Châteaubriant, sem nenhuma dúvida. Mais importante que os Marinho, que os Civita... A Globo, na verdade, tem repetidoras regionais. O Châteaubriant, não. A outra diferença enorme entre os dois, é que o Roberto Marinho era um homem dos bastidores, de ficar atrás da cortina, um cara extremamente discreto. O Châteaubriant era uma figura escancarada. O que ele pensava, dizia e escrevia, por maior que fosse a barbaridade que ele tivesse na cabeça. Ele tinha um lado, que no Roberto Marinho ficou mais discreto, e nele era mais exposto, que era a chantagem. Ele construiu o maior museu do hemisfério sul (MASP – Museu de Arte de São Paulo) de peixeira na mão, tomando dinheiro de empresário.

:: ND - O que pensa sobre a regulamentação da mídia?

FM - O fundamental é a regulação dos meios eletrônicos de comunicação, porque jornal, bem ou mal, é propriedade de quem montou. Agora, rádio e televisão são concessões públicas, são propriedade social. Portanto, você não pode fazer daquilo o que der na sua cabeça. Outra coisa, propriedade cruzada: não pode ter. Nos EUA não tem, na Europa não tem... Se você é proprietário de um canal de televisão, você não pode ter jornal, não pode ter rádio. Não é censura. Você tem que estabelecer normas. A Globo não pode pregar golpe de estado, seja contra quem for. Aquilo ali é uma propriedade social, não é dos filhos do Roberto Marinho. Isso precisa ser visto com um pouco mais de responsabilidade pelo governo.

Os grandes veículos de comunicação ficam enganando a população dizendo que a regulação da mídia é censura... Não tem nada de censura. Os jornais vão poder continuar escrevendo o que quiserem, mas rádio e televisão têm que se submeter a regras porque não são propriedades particulares. O sinal do rádio e o da televisão são propriedades sociais.

:: ND - Seu próximo livro é sobre um período da vida do Lula. Como você acha que ele entrará para a história?

FM - Acho que ele já entrou para a história. Daqui a 200 anos, os seus tataranetos, quando olharem para os séculos XX e XXI no Brasil, vão ver dois personagens: Getúlio Vargas e Lula. Tem outros importantes, mas efetivamente, os que vão ficar na história são Lula e Getúlio. O Lula é um sujeito com um vigor pessoal e uma energia física impressionante, é um personagem fascinante. O que estou fazendo não é uma biografia, é um pedaço da vida dele, que vai da prisão até o fim da presidência. É um privilégio poder retratar esse pedaço da nossa história.

:: ND - Até porque ele teve um papel fundamental na redução da fome no país...

FM - Eu nunca vi isso, ter tirado 40 milhões de pessoas da fome pacificamente... Não fuzilou ninguém. Vão dizer que o Mao Tsé Tung fez isso na China, que o Stálin moveu populações enormes na URSS... Aqui não teve opressão, foi feito pacificamente, e foi um negócio que beneficiou todo mundo. É o “Ovo de Colombo” do Lula. A partir do momento em que o miserável começa a comer iogurte, a ter luz elétrica, a compra geladeira... Isso está mobilizando, gerando emprego, é uma corrente de motocicleta. O motor é o Bolsa Família, que é pouca coisa. Mas se você junta 40 milhões de pessoas, você está colocando bilhões de reais no mercado. Foi bom para todo mundo.

:: ND - E a votação no STF sobre a questões das biografias, tem acompanhado a polêmica?

FM - Isso é uma barbaridade. Vida de pessoa pública é pública. O que tem que haver é o seguinte: se você cometer um crime, o prejudicado que te processe, mas não se pode proibir um livro. Tenho esperança de que o Supremo [Tribunal Federal] resolva isso de uma vez por todas.

:: ND - Como enxergou o episódio recente da FIFA?

FM - Olha, eu sou um dos raros brasileiros que não entende de futebol, mas eu entendo de José Maria Marin. Trata-se de um grandessíssimo F.D.P. Conheço o ‘seu’ Marin da Assembleia Legislativa de São Paulo. Ele era deputado estadual e nas semanas que antecederam o assassinato do Vlado (Vladmir Herzog), meu querido amigo, ele ia para a tribuna elogiar o delegado Fleury e dizer que a TV Cultura tinha se transformado na TV Vietcultura, açulando a extrema-direita do Exército contra a TV Cultura e contra o Vlado. Então, se há alguém que merece estar na cadeia é o Zé Maria Marin. E acho que está muito bem na cadeia na Suíça, que é cadeia civilizada.

Na verdade, eu vejo futebol pelos olhos do Juca Kfouri, que é meu amigo há 40 anos... Futebol é um escândalo, é uma máquina de fabricar dinheiro, e agora a gente está vendo como esse dinheiro é fabricado. Eu brinco, dizendo que sou um dos raros brasileiros que não sabe qual é a alegria de marcar um gol, porque nem acompanho, nem jogo futebol. Mas eu vejo isso politicamente e bato palmas.

:: ND - Depois de quase 20 anos de produção, o Guilherme Fontes terminou a adaptação para o cinema de “Chatô, o Rei do Brasil”. Já teve a oportunidade de assistir?

FM - Eu não gosto de assistir o filme em cabine fechada. O Guilherme me chamou há uns 10 dias para ir ao Rio assistir em cabine, mas eu não quis. Aí, ele foi a São Paulo e levou o trailer em um pen drive. Colocou no meu computador e, sem ele perceber, eu “roubei”.  Vi, gostei muito e devolvi. Quando ele foi embora, coloquei no ar. Furei. Achei que ele fosse ficar bravo comigo, mas foi bom porque despertou interesse em alguns jornais. Dois cineastas que eu respeito muito viram o filme e se impressionaram muito bem, que é o Cacá Diegues e o João Moreira Salles. Estou torcendo para o filme bombar.

:: ND - Qual livro está lendo no momento?

FM - O Último Narcotraficante. Vou fazer um argumento para um diretor norte-americano sobre o cara que herdou os cartéis de cocaína depois da morte do Pablo Escobar, aquela região do norte da América do Sul, Caribe, México... Esse camarada chegou a ser capa da Forbes quando completou US$ 1 bilhão em sua conta bancária. Ele foi preso há um ano, no México, e não deve sair da cadeia, mas também não deve ser extraditado. Os EUA têm seis pedidos de extradição dele, mas acho que o Peña Nieto, atual presidente, não vai extraditar, por uma postura de soberania. O criminoso é mexicano e vai cumprir pena lá. Na verdade, estou lendo 18 livros sobre ele, para me familiarizar com a história. Estou fazendo isso paralelamente ao livro do Lula, o que é até bom. Quando canso de um, vou para o outro dar uma refrescada.

Historiador desenvolve projeto de leitura em regiões carentes




A caminhonete Rural Willys verde, intitulada “Furiosa”, chama atenção pelas ruas de Cuiabá. Na carroceria, são carregados mundos de conhecimentos, através de livros de literatura.

O veículo abriga o projeto “Inclusão Literária” e leva cultura para diversos municípios de Mato Grosso.

Dirigindo o automóvel, o técnico administrativo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Clóvis Matos, de 60 anos, orgulha-se da ação social, que está completando uma década.

A paixão de Clóvis pelos livros surgiu na infância, quando morava no município de Iporá, em Goiás.

Apesar de o lugar ser distante, o criador do “Inclusão Literária” conta que conheceu os primeiros livros da vida a partir de hóspedes que passavam temporadas no hotel de sua família. O primeiro grande livro ao qual teve acesso foi “Cem Anos de Solidão”, do Gabriel Garcia Marquez.

“Na minha cidade não tinha livraria, nem asfalto. Os turistas levavam livros, gibis e revistas, foi a partir daí que comecei a me interessar pela leitura”, relembrou.

Formado em história, no ano de 1992, Matos teve a ideia de criar o “Inclusão Literária” após trabalhar como diretor de marketing em uma livraria da Capital mato-grossense.

Ele conta que criou um espaço de leitura na loja, para que o público pudesse ler trechos das obras. Porém, notou que muitas vezes os leitores iam diversas vezes ao local, para que pudessem terminar de ler os livros, sem comprá-los.

"Eu percebi que as pessoas terminavam de ler na própria livraria, sem comprar os livros, porque eles eram caros."

“Eu percebi que as pessoas terminavam de ler na própria livraria, sem comprar os livros, porque eles eram caros. A partir de então, tive a ideia de facilitar a leitura para quem não tinha condições financeiras”, explicou.

Criado em 2005, o “Inclusão Literária” marcou uma nova fase na vida de seu criador. O primeiro passo foi a compra da “Furiosa”, que desde o princípio foi utilizada para servir de biblioteca itinerante. Clóvis Matos sempre teve o objetivo de levar os livros para as zonas rurais, como Pantanal, Manso e Poconé.

Sem grandes apoios governamentais, o projeto teve pouco auxílio do governo. Clóvis relatou que o“Inclusão Literária” possuiu somente uma ajuda custeada pelo Governo do Estado.

O início da ação social foi avaliado em R$ 94 mil. O valor foi encaminhado para o programa de Lei de Incentivo Estadual, que concedeu apenas R$ 30 mil para ajudar na empreitada.

“Houve uma outra vez em que o projeto foi aprovado pela Lei de Incentivo Federal à Cultura e eu deveria captar verba. Mas fiquei dois anos e meio tentando e acabei não conseguindo nada”, lamentou.

Os gastos com gasolina, estadia e alimentação são pagos pelo próprio Clóvis, que não conseguiu nenhum tipo de ajuda financeira. Para auxiliá-lo na distribuição dos livros e na condução dos eventos, ele conta com voluntários. Alguns estudantes da UFMT costumam viajar com o técnico-administrativo para outros municípios.

Dificuldades de incentivo no Estado

Ele afirma que a falta de incentivo financeiro a projetos culturais ocorre pelo fato de Cuiabá não fazer parte dos grandes centros do Brasil.

“Somos periferia, se fosse Rio de Janeiro ou São Paulo, conseguiria recursos mais facilmente. Aqui é muito difícil”, disse.

Além do projeto “Inclusão Literária”, Matos também costuma ensinar audiovisual aos jovens presentes nas regiões onde faz distribuição de livros. Ele ensina a produzir obras que incluem som e imagem a partir da leitura dos jovens.

Por enquanto, apenas os municípios próximos a Cuiabá foram contemplados com incursões da “Inclusão Literária”, que ocorrem em quase todos os finais de semana. As regiões periféricas são os alvos. As zonas rurais do Pantanal, Manso, Barão de Melgaço, Chapada dos Guimarães, Acorizal e Poconé foram algumas das áreas que receberam o projeto.

A próxima parada do projeto será Juína, no interior do Estado, dia 4 de junho. A “Furiosa” desta vez será deixada em casa, pois este será o primeiro evento de Clóvis com sua nova biblioteca ambulante, uma Kombi branca. A nova ação tem empolgado o técnico-administrativo, que ainda está acertando os últimos detalhes do novo veículo.

Em uma década do “Inclusão Literária” foram distribuídos 25 mil livros. As obras são doadas às pessoas que participam dos eventos, pois Clóvis é contrário ao empréstimo literário. Ele compartilha do pensamento de que os livros devem circular e, por isso, acredita que as doações contribuem para que mais pessoas tenham acesso à cultura.

“Os livros contribuem muito para ajudar intelectualmente as pessoas. Por isso, não quero que elas devolvam, mas que passem para frente. A intenção é fazer as obras circularem”, explicou.

A partir do ano que vem, Clóvis deve se aposentar. Ele espera que na nova fase da vida possa se dedicar mais aos projetos de incursões literárias.


Bruno Cidade/MidiaNews
 

A "Furiosa" leva leitura a todas as regiões do Estado - dos centros das cidades à periferia

Papai Noel

Há 10 anos, durante o final de ano, aproveitando-se da aparência de bom velhinho, Clóvis Matos trabalha como Papai Noel em um shopping center de Cuiabá. O dinheiro que arrecada durante a ação é revertido para os seus projetos sociais.

No dia 25 de dezembro, quando encerra o trabalho no shopping, o homem vai a hospitais de regiões carentes do interior do Estado e distribui presentes para as crianças.

“A gerente do shopping center me chamou para trabalhar como Papai Noel porque estava difícil encontrar alguém para o cargo. Então, aproveitei disso para ajudar nos meus projetos sociais, que estavam no início”, contou.

Doações

As doações de livros, de acordo com Clóvis, são feitas geralmente por adultos. Poucas obras infantis são doadas ao projeto.

Para doar livros ou gibis para o projeto “Inclusão Literária”, basta entrar em contato com fundador do projeto. O telefone é (65)8135-1176 ou através do e-mail clovismatos@hotmail.com

Seduc

Neste ano, Clóvis poderá realizar a primeira parceria com o Governo do Estado. Através da Secretaria de Educação do Estado (Seduc-MT), o “Inclusão Literária” deverá ganhar desenvolvimento e auxílio financeiro. A partir da união, o projeto irá para novos municípios do interior.

A Seduc-MT, através de assessoria de imprensa, que está avaliando verba para custear os gastos necessários à ação.

Bibliotecas no Estado

No momento, a Biblioteca Estadual não está alugando livros para o público. A medida ocorre em razão do regimento da entidade, que ficou pronto recentemente e aguarda decisão jurídica para que possa entrar em vigor. A coordenadora das bibliotecas públicas do Estado, Salime Daige, relatou que alguns projetos de leitura são desenvolvidos pelo Estado.

“A biblioteca vem reavaliando medidas de acesso aos livros e leituras. Periodicamente, realizamos colônias de férias para incentivar crianças a lerem. Na ação, também realizamos trocas de livros”, contou.

"A biblioteca vem reavaliando medidas de acesso aos livros e leituras"

Conforme Daige, cada município do Estado deveria possuir uma biblioteca pública. Porém, ela afirma que nem todos os lugares respeitam a decisão e os prefeitos acabam deixando de lado os cuidados com a leitura.

“Os cuidados com as bibliotecas municipais ficam a cargos dos prefeitos de cada cidade. Mas alguns não as valorizam e acabam fechando.

Biblioteca da Mell já recebeu mais de 5 mil livros


Um livro tem o valor de 100 livros para o meu coração”

“O livro tem três valores: o de ter, o de trocar e o cheiro. Você pode viajar na leitura, estar no México, ou em qualquer outro lugar, mas sentado.”

Essas são frases da pequena Mell. Com apenas sete anos, ela sonha em abrir uma biblioteca pública em sua cidade, Mata Grande, um pequeno município em Alagoas, com pouco mais de 25 mil habitantes.

Vinda de uma geração de professoras, Mell sempre foi muito influenciada pelas histórias contadas pela mãe e avó. "Antes mesmo de saber ler, ela já gostava de livros ilustrativos", conta a madrinha e prima da garota, Marina Fortes.

Do amor pela leitura veio o sonho de compartilhar esse mesmo sentimento com outros em sua comunidade. A ideia de montar uma biblioteca começou a se materializar quando uma cartinha enviada por Mell a uma tia foi parar nas redes sociais.

A primeira divulgação pública da carta ocorreu no dia 28 de março. Desde então foram mais de 5.000 livros arrecadados.

A Secretaria de Educação de Alagoas doou mais de 2.700 obras, e, em seguida, chegaram mais 2.000 exemplares da Academia da Polícia Militar.

Fora isso, todos os dias chegam pelos Correios livros vindos de todos os estados do País. Vendo o sonho se tornar realidade, a família resolveu investir em pontos de coleta de livros, que hoje já somam 13 espalhados pelo estado.

A família também está arrecadando recursos para construir uma biblioteca com espaço suficiente para todo o material. Enquanto isso, grande parte dos livros fica no Arquivo Público Estadual, que se responsabiliza pela catalogação deles.

"Ela está muito feliz com o apoio de todos e por ver o seu sonho começando a se tornar realidade. A cada livro que ela recebe, é um sorriso a mais", conta a madrinha. "A sensação é de muita felicidade, por ver o sonho da Mell se realizando e despertando nas pessoas a cooperação, mostrando a todos que a leitura está viva."

A Mell, assim como toda criança hoje, também é fã da tecnologia e todas as suas plataformas: celular, tablet ou computador. Mas é a leitura o principal passatempo e a maior fonte de alegrias e conhecimento da pequena.