Livro mais misterioso do mundo será finalmente publicado





Um dos livros mais enigmáticos da história, com mais de 600 anos, vai ser publicado pela primeira vez, pela Siloé, uma pequena editora da cidade de Burgos, na Espanha. O manuscrito Voynich , do século 15 e com 244 páginas, está guardado a sete chaves na Biblioteca Beinecke, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

Trata-se de uma obra escrita em linguagem cifrada e um dos grandes desafios há séculos para historiadores e linguistas de todos os continentes. Eles esperam encontrar em suas páginas segredos da alquimia.

Juan José García, editor da Siloé, afirmou que a tiragem “será de um número palindrômico, 898 exemplares”, devido à sorte que deu editar 696 exemplares do seu primeiro título, “Bestiário”, de Juan de Austria. O preço apenas estará ao alcance de bibliotecas e colecionadores, entre € 7 mil e € 8 mil. Cerca de 300 exemplares já foram vendidos.

García explica que a Universidade de Yale decidiu vender os direitos por três razões: para evitar os muitos pedidos de consulta; porque não consegue atender todos os museus que desejam expor o livro; e porque, assim, o divulgam melhor. O livro original, claro, não vai sair da Yale.

O manuscrito Voynich conserva intacto o magnetismo que ainda têm os livros secretos: que explicam o sentido da vida e os poderes mágicos ou ainda aqueles de caráter demoníaco, cuja leitura provocaria a loucura ou a morte. A história do manuscrito já é misteriosa por si só e, durante certo tempo, acreditou-se que era uma invenção de um livreiro lituano de origen polonesa, Wilfrid Voynich.

Desenhos de plantas estranhas

Revolucionário deportado para a Siberia pela polícia czarista, ele conseguiu fugir primeiramente para a Alemanha e, depois, para Londres. Lá se casou com a filha de um grande matemático. Licenciado em farmácia, ele traduziu Marx e Engels ao inglês, falava 18 idiomas e fez fortuna com o comércio de livros antigos.

Em 1914, ele ficou sabendo que os jesuítas do Nobile Collegio Mondragone, de Frascati (Itália), sem dinheiro, estavam vendendo seu acervo. Voynich foi ao leilão e se interessou por um pequeno livro de apenas 23 cm x 16 cm, ao qual faltavam 28 páginas. Tinha vistosos desenhos de plantas estranhas, diagramas astrológicos e mulheres nuas se banhando em densos lagos de cor verde.

Apenas meses mais tarde, já em Londres, ele se deu conta de que a obra estava escrita em uma linguagem desconhecida que ninguém conseguia decifrar. Talvez porque revelasse substâncias usadas na alquimia que eram proibidas pela igreja.

Teorias delirantes

As dúvidas sobre a autenticidade do manuscrito se diluíram quando a análise com carbono 14 certificou que o papel datava de entre 1404 e 1438, e a tinta, de, no máximo, 1459. Um dos seus proprietários foi Rodolfo II, da Boêmia, protagonista de una novela de Chatwin.

Desde o descobrimento do manuscrito, há diversas teorias delirantes, como a de que teria sido escrito por extraterrestres. Em 2014, o professor Stephen Bax afirmou que havia conseguido decifrar 14 caracteres, utilizando coleções de plantas medievais árabes e asiáticas.

Documentário Leitores sem fim

Leitores sem fim relata histórias de pessoas que tiveram a vida modificada pelo hábito da leitura. A partir da realidade de bibliotecas públicas localizadas em regiões de baixa renda no Rio de Janeiro, o documentário mostra o novo modelo que se pretende criar de espaços culturais, baseado na experiência exitosa das Bibliotecas Parque da Colômbia. Mostra também a situação da leitura no Brasil e o esforço de parlamentares para universalizar as bibliotecas escolares no país.





Morador de rua passa dia em biblioteca lendo para matar dor do tempo



Antes do sol aparecer, Carlos Augusto Durval dos Santos, de 56 anos, já está pronto para mais um dia na rua. Dobra o papelão junto com o cobertor que usa para dormir e esconde em um cantinho da cidade. Em busca de alguns trocados, pede dinheiro na rua, toma um café e segue para as escadas que dão acesso à Biblioteca Pública Estadual, na Avenida Fernando Corrêa da Costa.

O lugar parece improvável para quem não tem mais uma casa ou referência familiar, mas assim como Carlos, outros moradores de rua encontraram nos livros a fuga da solidão, do abandono e de outras válvulas de escape, como as drogas. Se para muito hoje em dia a biblioteca é algo obsoleto, para eles é o melhor jeito de ver o tempo passar. 

Há 3 anos, Carlos descobriu nos livros um mundo diferente das recaídas que há tempos ele não dava conta de superar. "Tinha problema com a bebida sabe... Na rua, a gente começa andar com outras pessoas e acaba se afundando. Mas eu nunca usei droga, só a bebida mesmo, cai nessa perdição", lamenta.

Mas logo ele abre um sorriso e faz questão de mostrar os cadernos que compra com os trocados da rua. Entre as linhas, estão as anotações de alguns livros e frases que surgem na cabeça durante a noite. Os blocos de anotações são feitos com volantes que ele pega na lotérica. Servem para guardar os trechos das leituras. 

"Não gosto muito de ficção, prefiro os livros espiritas, deixo 4 aqui na minha mesa. Mas já li a biografia da Elis Regina e da cantora Maísa", conta mostrando o amontado de livros na mesa que ele faz questão de sentar todos os dias na biblioteca.

Além das obras de Allan Kardec e as biografias, o dicionário é livro indispensável. O clássico Aurélio é como um acessório para Carlos. "Eu uso ele todo dia, tem algumas palavras nos livros que eu não entendo, aí eu devoro o dicionário. Aí, se tem alguma palavra que eu acho interessante, eu anoto aqui no caderno", explica. 

Ele passa cerca de 8 horas dentro da biblioteca todos os dias. Só para na hora do almoço. A comida ele ganha de uma marmitaria próxima, as vezes até o funcionário do prédio divide o alimento com ele. "Café da manhã para mim não pode faltar, eu sempre faço uns R$ 9 cuidando carro, de manhã eu tenho que comer 2 pães com mortadela", comenta. 

Sem mencionar o motivo, ele conta apenas que saiu de casa em 1990, depois de chegar do Rio de Janeiro. Em Mato Grosso do Sul, chegou a trabalhar em fazendas, mas depois de perder o emprego, foi a bebida que o consumiu totalmente. 

"Hoje frequento o AA (Alcoólicos Anônimos) e fico na biblioteca, tenho a cabeça no lugar, carrego aqui essa vivências e tô muito melhor. Tenho educação, não tenho passagem pela polícia e por isso eu fico aqui, tô nem aí...", reflete se referindo as pessoas que as pessoas ficam incomodadas com a presença deles por ali.

Até para quem admite não gostar de ler, o lugar é como um refúgio. Receoso com a proximidade, o morador de rua Thiago Ferreira Guimarães, de 36 anos, larga o mouse do computador e pede para não ser fotografado assim que percebe a nossa equipe. Após alguns minutos de conversa, finalmente ele topa dar entrevista.

Thiago é outro que pouco fala de onde veio. Não gosta de ser chamado de morador de rua, mas afirma que dorme pelas calçadas todos os dias. Longe de casa, não se reconhece mais em família. "Eu nunca tive família, sei que tive uma mulher velha que se diz minha tutora, mas eu sai de lá faz tempo e fiquei desempregado", conta.

Na biblioteca, os livros não chamam atenção. Ele aproveita o dia para entrar na internet, assistir disputa de games pelo Youtube, ler o jornal e passar o tempo. Entre uma informação e outra, se confunde com a própria história. Cita os problemas na política e divaga sobre o que família viveu no tempo da guerra fria.

Por fim, admite que ali é onde encontra o apoio que ele não vê nas ruas há muito tempo. "Eu venho pra ficar sem dor, a dor do tempo sabe? É pra aliviar o tempo, eu tinha outro ritmo, usava drogas e hoje não uso nem bebida, é um jeito de não ficar vagando pela rua, sozinho...", justifica.

Rejeição - Desde que eles começaram a frequentar a biblioteca, a permanência dos moradores de rua se tornou uma batalha diante da rejeição de outros frequentadores. Quem resiste firme é a bibiotecária Eleuzina Crisanto de Lima, de 41 anos. "As pessoas se incomodaram com a presença deles, pelo fato de não tomarem banho. Mas eu pensei que isso não podia ser motivo para impedir eles de estarem aqui e muito menos das pessoas se sentirem incomodadas", conta.

Por isso a servidora arregaçou as mangas em busca de apoio para quem vivia na rua. "Pensei comigo: eu não posso perder os meninos, aí eu conversei com eles, expliquei que bastava tomar um banho e entrar limpinho que o problema seria resolvido. Conseguimos parceria com um centro de triagem que oferece assistência social, eles tomam banho, as vezes trocam de roupa quando ela já está bem suja, procuramos fazer documentos para alguns. Tudo para não perder eles, porque isso daqui é pra todo mundo", justifica.

Eleuzina acredita no efeito positivo que os livros e o ambiente proporcionam. "Eles vivem em uma situação tão difícil e posso ver que isso aqui é um suporte de apoio. Por isso, enquanto a gente estiver aqui, vamos bater o pé para que eles continuem frequentando. Porque é uma biblioteca pública e ela deve ser para todos", reforça.