O Bibliotecário e a leitura conectada

Rodney Eloy


 
Ultimamente só se falam nos muitos argumentos a favor dos e-books ou livros eletrônicos. Embora tenham surgido em 1971, pouco a pouco tem se tornado popular devido a proliferação dos dispositivos (tablets, smartphones, e-readers etc). No entanto, em meio a este turbilhão existem os céticos que profetizam que tais dispositivos extinguirão os livros impressos e consequentemente as bibliotecas.

Toda esta revolução não deixa de ser interessante, porque como bibliotecário, a leitura de livros tem uma importância significativa em minha vida e tenho algumas centenas deles em meu apartamento. A princípio, depois de certa resistência - mesmo sendo um entusiasta da tecnologia - resolvi me enveredar neste mundo "desconhecido" e ter minha própria opinião sobre o assunto.

Lembro-me da primeira vez que ouvi falar de um tablet, foi em janeiro de 2010, com o anúncio de lançamento por Steve Jobs, de um tal iPad. Mal sabíamos, os pobres mortais, que aquilo era o início de mais uma revolução nos costumes.

Em novembro de 2011 adquiri meu primeiro tablet, um modelo econômico, entretanto, mesmo com seus inúmeros recursos, o que realmente me motivou a comprá-lo foi a opção de leitura de e-books. Como não poderia ser de outra forma, minha estreia se deu com a biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson. Em um trecho tenso da obra, o autor relata uma conversa de Jobs com Barack Obama, onde Jobs declara "Todos os livros, o material didático e os sistemas de avaliação deveriam ser digitais e interativos, personalizados para cada aluno e com feedback em tempo real." Seria este um prenúncio do fim, vindo de uma mente inquieta?

 
Ainda não conhecemos totalmente até onde estes sistemas nos levarão, o que posso adiantar é que a leitura no tablet tem suas peculiaridades, a primeira, é que não tive de transportar 1 kg das 607 páginas do livro em papel de Isaacson, além disso tem as opções de adequar o tamanho da letra, ler no escuro, controlar o brilho da tela, fazer anotações e marcar páginas, exemplos simples entre tantos, mas que demonstram a praticidade da leitura com os citados recursos. Não me julguem antecipadamente, adorei a experiência e recomendo a todos, mas em tudo existem prós e contras, vantagens e desvantagens. Continuarei lendo livros em papel? Claro que sim, nada substituirá a experiência estética, lúdica, espiritual da leitura em livros impressos. E-books são um item a mais, no imenso ecossistema da leitura. Eu e minha esposa adoramos viajar, oportunamente, eu levo meu livro impresso, ela, o de sua preferência, o tablet também, como um complemento tecnológico e lado a lado, sem superior ou inferior, sem anular um ao outro, ambos distintos, coexistindo e prosperando pacificamente, porém essenciais nos dias de hoje. E mais, acredito que cada leitor deve saber o que é melhor para si e o que pode se adequar em seu contexto. Na área acadêmica, por exemplo, alunos de arquitetura poderiam evitar o peso em suas mochilas dos "Benevolos", "Neuferts", "Gombrichs" etc

 
A medida que vemos a tecnologia avançando, em contrapartida, a resistência ainda é grande, mas a história parece se repetir, pois já no século XV, Johannes Gutenberg sofria fortes criticas por parte dos copistas que eram contra seus tipos móveis. Ironicamente, o maior catálogo de e-books gratuitos do mundo chama-se Projeto Gutenberg, que inclusive disponibiliza inúmeras obras em português.

 
Grandes personalidades literárias deixaram a resistência de lado, como Ray Bradbury, que aos 91 anos, permitiu que seu clássico "Fahrenheit 451" fosse publicado na versão e-book. Aos 79 anos, Umberto Eco ao invés de carregar 20 livros em uma turnê pelos Estados Unidos, comprou um iPad e está adorando a experiência, não poupando elogios.

 
Nos Estados Unidos, uma nação com tecnologia em seu DNA, a dinâmica é outra. Existem escolas sem bibliotecas físicas, porém com bibliotecários digitais, “bibliotecas antenadas” - especialmente públicas - que já emprestam milhares de obras eletrônicas normalmente. É comum encontrar leitores com seus e-readers em transportes públicos, praças, praias etc.

No Brasil, a aquisição e utilização deste tipo de tecnologia ainda são bem discretos, porém a Amazon já tem planos de comercializar o seu maravilhoso aparelhinho e-reader por terras tupiniquins, trata-se do Kindle. Por considerar as taxas de importação exorbitantes, prefiro por enquanto esperar o início das vendas por aqui.

 Portanto, vem a questão, os dispositivos eletrônicos substituirão os bibliotecários e bibliotecas? Uma das funções dos bibliotecários é organizar informação, independente dos suportes em que se encontram. As bibliotecas precisam se adaptar a este caminho sem volta e ir ao encontro das preferências dos novos leitores. Os livros impressos vão acabar? Não sei, talvez. Existe um lobby forte de ecochatos, que estão por aí, remodelando a sociedade já faz um bom tempo.


Por fim, independente dos formatos, livros sempre existirão, livros sempre serão fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade, devemos pensar na integração dessa transmidialidade dos livros. A magra estatística de livros lidos por ano em nosso país indica uma subnutrição cultural aguda, e isto sim, é um problemaço a ser resolvido, pois como “tuítaria” Monteiro Lobato se estivesse vivo, em ser perfil no microblog: “Um país se faz com homens, mulheres e livros eletrônicos.”

Rendam-se! A festa nunca é tão divertida quanto parece do lado de fora. A história dos livros continua a ser escrita. É só ligar e ler!

@rodneyeloy é bibliotecário universitário e responsável pelo Pesquisa Mundi

10 motivos pelos quais você deveria ler todos os dias


Crédito: Shutterstock.com

Se você acha que a leitura é uma prática entediante, talvez seja hora de rever seus conceitos. Conheça 10 bons motivos para ler todos os dias e transformar isso em um hábito
Uma das práticas que os jovens consideram mais entediantes é a leitura. Não é raro ouvir reclamações sobre a obrigatoriedade da leitura, mesmo que algumas histórias surpreendam por atrair o interesse. Contudo, estabelecer o hábito da leitura pode trazer diversos benefícios para a vida, tanto no mundo acadêmico quanto na carreira. Confira a seguir 10 motivos pelos quais você deveria ler todos os dias:
1. Estímulo mental
 O cérebro necessita treinamento para se manter forte e saudável e a leitura é uma ótima maneira de estimular a mente e mantê-la ativa. Além disso, estudos mostram que os estímulos mentais desaceleram o progresso de doenças como demência e Alzheimer.
2. Redução do estresse
 Quando você se insere em uma nova história diferente da sua, os níveis de estresse que você viveu no dia são diminuídos radicalmente. Uma história bem escrita pode transportá-lo para uma nova realidade, o que vai distraí-lo dos problemas do momento.
3. Aumento do conhecimento
 Tudo o que você lê é enviado para o seu cérebro com uma etiqueta de “novas informações”. Mesmo que elas não pareçam tão essenciais para você agora, em algum momento elas podem ajudá-lo, como em uma entrevista de emprego ou mesmo durante um debate em sala de aula.
4. Expansão de vocabulário
 A leitura expõe você a novas palavras que inevitavelmente elas serão incluídas no seu vocabulário. Conhecer um número grande de palavras é importante porque permite que você seja mais articulado em seus discursos, de maneira que até mesmo a sua confiança será impulsionada.
5. Desenvolvimento da memória
 Quando você lê um livro (especialmente os grandes) precisa se lembrar de todos os personagens, seus pontos de vista, o contexto em que cada um está inserido e todos os desvios que a história sofreu. A boa notícia é que você pode utilizar isso a seu favor, fazendo dos livros um treino para a sua memória. Guardar essa quantidade de informações faz com que você esteja mais apto para se lembrar de eventos cotidianos.
6. Habilidade de pensamento crítico
 Já leu um livro que prometia um mistério confuso e acabou por desvendá-lo antes mesmo do meio da história? Isso mostra a sua agilidade de pensamento e suas habilidades de pensamento crítico. Esse tipo de talento também é desenvolvido por meio da leitura. Portanto, quanto mais você lê, mais aumenta sua habilidade de estabelecer conexões.
7. Aumento de foco e concentração
 O mundo agitado de hoje faz com que sua atenção seja dividida em várias partes, de modo que manter-se concentrado em apenas uma tarefa torna-se um desafio. Contudo, livros com histórias envolventes são capazes de desligar você do mundo ao redor, fazendo com que sua atenção esteja inteiramente voltada para o que acontece na trama. Embora você não perceba, esse tipo de exercício ajuda você a se concentrar em outras ocasiões, como quando precisa finalizar um projeto urgente.
8. Habilidades de escrita
 Esse tipo de habilidade anda lado a lado com a expansão do seu vocabulário. Assim como a leitura permite a você ser alguém mais articulado na fala, também vai ajuda-lo a colocar com mais clareza os seus pensamentos no papel. Isso vai dar a você a chance de produzir textos com mais qualidade, não apenas de vocabulário, como também correção gramatical e ideias mais ricas.
9. Tranquilidade
 O fato de envolver você em uma história e livrá-lo do estresse cotidiano faz do livro uma ótima ferramenta para alcançar a paz interior. Nos momentos de estresse, procure se distrair do que acontece com uma história que atrai seu interesse. Isso vai acalmá-lo e ajudá-lo a melhorar seu humor.
10. Entretenimento a baixo custo
 Muitas pessoas acreditam que o conceito de diversão está diretamente ligado aos altos custos de uma viagem ou mesmo de uma festa. Contudo, se você encontrar um livro que chame a sua atenção, poderá viajar sem sair da sua casa. E se você acha que os preços cobrados por um livro também são abusivos, pode baixar aqui mais de 1.000 títulos gratuitamente.

Dedicatórias de escritores a José Mindlin e a sua biblioteca de 40 mil livros viram obra

Ivan Finotii

 
Um dos quartos da casa do Brooklin, que reunia 40 mil livros

Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada." Os versos de Vinicius de Moraes (1913-1980) não serviriam para descrever a residência no Brooklin, zona sul de São Paulo, onde o empresário José Mindlin e sua mulher, Guita, viveram cerca de 60 anos.

Porque a casa dos Mindlin tinha pelo menos uma coisa: livros. E muitos deles, centenas, milhares, cerca de 40 mil títulos. Mas era uma casa muito engraçada, pelo menos para a neta do casal, Lucia Mindlin Loeb, que lá passava as férias de verão e, durante as aulas, frequentava os almoços familiares de fim de semana.
Só mesmo uma casa muito engraçada para se comemorar aniversários de livros, o que aconteceu em 1988, com um bolo de chocolate, champanhe e um aniversariante de 500 anos na cabeceira da mesa: um exemplar original do poeta italiano Francesco Petrarca, datado de 1488.

"Na estante da sala tinha uma portinha, onde ficava o bar. Era demais!", lembra a fotógrafa Lucia, 40, que tinha 16 anos no aniversário de Petrarca.

Outra coisa engraçada na casa é que, dos 40 mil livros, centenas traziam dedicatórias especialíssimas endereçadas ao casal José (1914-2010) e Guita (1916-2006).
Dedicatórias que agora foram reunidas pela neta no livro "Para a Tão Falada Biblioteca José e Guita Mindlin" (Edusp, 240 págs., preço a definir).
Com fotografias de 124 dedicatórias --e das capas dos livros-- tiradas pela própria Lucia, a publicação traz mensagens manuscritas de Drummond, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Erico Verissimo, Antonio Candido, enfim, de toda a nata da literatura brasileira.

E também de estrangeiros do porte de Mario Vargas Llosa, José Saramago ou Jean Claude Carrière, roteirista das obras-primas surrealistas do espanhol Luis Buñuel, como "A Bela da Tarde" (1967), "O Discreto Charme da Burguesia" (1972) e "Esse Obscuro Objeto do Desejo" (1977).
 "Olá Jose Mindlin!", brincou Carrière em 1989, como se fosse o próprio Buñuel, morto seis anos antes. "Um abraço do fantasma L.B.", completou.
Já Drummond se espantou ao receber de Mindlin, em 1980, um exemplar de seu "Alguma Poesia", publicada 50 anos antes, quando o poeta tinha 28 anos.

Para facilitar a leitura da caligrafia nem sempre compreensível desses pesos pesados, a obra transcreve as dedicatórias a cada página.

JABUTICABA
A maioria desses livros não está mais na casa do Brooklin, com seu quintal e duas edículas que serviam de anexos para as prateleiras repletas.

Trinta mil títulos moram agora na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, inaugurada há dois meses na USP. E é lá que vai ser o lançamento da "Para a Tão Falada...", no dia 8 de junho, das 11h às 14h.

Lucia conta que teve a ajuda do avô quando começou a fazer as fotos, em 2009. "Ele me mostrava o que achava mais legal. E sabia onde estava cada livro." "Vô, tem do Manuel Bandeira?" "Tem, Lucia, está aqui." "E do Fernando Sabino?" "Aqui."

Às vezes, um dos autores aparecia para entregar pessoalmente seu exemplar autografado. E acabava ficando para o almoço, não sem antes dividir uma pinguinha mineira com o dono da residência, caso de Antonio Candido e de tantos outros.

Dividindo com tais escritores a torta de espinafre, bolinhos de frango, bifes e pastéis que a cozinheira Catarina preparava, Lucia acabou conhecendo boa parte deles ao redor da mesa de jantar.

Até pegou amizade com as netas de Verissimo, que tinham a mesma idade dela. E tomou um susto quando as duas recusaram as jabuticabas de sobremesa, colhidas no próprio quintal. "São as únicas pessoas que conheci até hoje que não gostam de jabuticaba. Estranho, né?"

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/

Renato Lessa fala dos desafios à frente da Biblioteca Nacional

Fonte: O Globo.com
 
Quando foi anunciado que o cientista político Renato Lessa, de 58 anos, seria o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, uma amiga mandou a ele uma mensagem de parabéns, com um recado: “Que Deus e o governo ajudem você”.
Pelos problemas que o esperam, Lessa realmente vai precisar da ajuda de todos os lados na gestão da instituição. Há um ano, desde uma inundação, sua sede no Rio está sem ar-condicionado, o que, no verão, levou a temperatura dos armazéns de livros para até 50 graus. Outro ponto a ser enfrentado por Lessa, oficialmente no cargo desde segunda-feira, são as críticas quanto aos atrasos e ao orçamento elevado na organização brasileira na Feira de Frankfurt, a maior do mundo para o mercado literário, que vai homenagear o Brasil em outubro.
Em entrevista no gabinete da presidência da Biblioteca Nacional ­­— com as janelas abertas pela falta de refrigeração —, Lessa reconheceu que há muito a ser feito. Segundo ele, serão necessários mais 120 dias para que um sistema antigo de ar-condicionado volte a funcionar na Biblioteca, e o tempo para que o sistema geral seja religado é indeterminado. Lessa também discorda dos gastos assumidos pelo governo para Frankfurt — R$ 15 milhões de investimentos diretos e a possibilidade de mais R$ 3 milhões via renúncia fiscal —, por acreditar que a homenagem deveria ser de responsabilidade do setor privado. Mas promete cumprir os compromissos.
Por fim, o novo presidente da Biblioteca Nacional discorda de Galeno Amorim, que esteve no cargo nos últimos dois anos, quanto à quantidade de municípios sem bibliotecas no Brasil: “É um número vergonhoso”.
Como foi feito o convite para o senhor assumir a presidência da Fundação Biblioteca Nacional? A ministra (Marta Suplicy, da Cultura) pediu algo específico ao senhor?
Foi em meados de março, poucas semanas antes de ela anunciar a mudança. Nós tivemos uma primeira conversa excelente, muito franca. O que me deixou muito seguro para aceitar o convite foi a possibilidade de institucionalizar políticas para a Biblioteca Nacional, sem que dependam de rompantes ou projetos pessoais, com um clima de independência. Além disso, ao mesmo tempo em que a ministra me deu autonomia e liberdade para estruturar a gestão da Biblioteca, ela manifestou também um enquadramento geral de como vê a coisa. A maior preocupação da ministra, da qual eu compartilho inteiramente, é ter uma restruturação tanto da Biblioteca Nacional quanto da política do livro. É um movimento que não incidiu apenas sobre a Biblioteca Nacional, ele inclui também a vinda do Castilho (José Castilho Marques Neto, presidente da editora Unesp) para a reorganização da política do livro e do Sistema Nacional de Bibliotecas como política pública de Estado em Brasília.
A junção de responsabilidades da Biblioteca Nacional com a política do livro era justamente uma das maiores críticas que parte do mercado fazia ao seu antecessor, Galeno Amorim.


A Biblioteca Nacional estava sobrecarregada. O excesso de atribuições torna impossível que todas recebam igual atenção. Não era um desenho adequado. Agora, a Biblioteca vai ficar desasfixiada para cuidar de suas atribuições naturais.

Em alguns de seus artigos publicados em jornais, o senhor já expressou críticas aos governos do PT. Isso em algum momento foi impeditivo para aceitar o convite?
Não foi só ao PT, também fui crítico aos governos anteriores. Mas em momento algum esse assunto apareceu na conversa com a ministra. Meus artigos não são secretos, têm a ver com meu lado de intelectual público, como observador dos hábitos políticos brasileiros. Não foram artigos que se dirigiam a este ou aquele governo. Isso é sabido, é público, estou longe de abjurar as coisas que eu escrevi. E acho que isso qualifica o convite, mostrando a ideia de independência de pensamento e de juízo.
Ainda há uma infinidade de livros físicos em circulação, mas ao mesmo tempo existe hoje um processo de digitalização em curso, de aumento da presença dos livros digitais. Em vista disso, qual o senhor considera ser o papel de uma biblioteca hoje? Esse papel está mudando?

Eu acho que o papel da biblioteca não se altera. O que as configurações novas trazem é a importância de uma biblioteca acrescentar dimensões a seu papel, que é a guarda de acervos valiosos. Fazer a guarda desses acervos incorporando tecnologias que permitam a recuperação e o restauro, mas isso tudo associado a uma perspectiva de publicização, de conquistar públicos leitores de diferentes níveis. Desde o leitor eventual até pessoas profissionalmente ligadas à pesquisa que têm na biblioteca seu local de trabalho. Acho que o futuro da biblioteca tem a ver com a capacidade de atender essa diversidade pública. Mas isso implica naturalmente um projeto agressivo de digitalização, mas não só do acervo específico de uma biblioteca, mas uma digitalização que componha redes de acervos digitalizados. Por exemplo, você pode imaginar uma grande biblioteca virtual que reúna as bibliotecas dos países lusófonos, em que os usuários possam compartilhar os acervos. Outro recorte possível é com a América do Sul. Existe um mundo para ser explorado de compartilhamentos de base da nossa Biblioteca Nacional com outras bibliotecas do mundo.
Como vai a digitalização do acervo da Biblioteca Nacional?

Ainda é muito pequeno, temos cerca de 25 mil títulos digitalizados. São 11 milhões de páginas.

De um total de quantos?
O total é complicado. Nunca houve um censo rigoroso de qual é o tamanho da Biblioteca, é uma coisa que precisamos fazer. Existe um número mágico de 9 milhões. Mas são 9 milhões de títulos, de volumes físicos? Por exemplo, naqueles 25 mil títulos digitalizados, a gente considera “O Globo” um título. Mas se forem exemplares, esse número já aumenta. Então não tenho como dizer um percentual do que já foi digitalizado. Mas posso dizer que é muito pouco, muito pequeno em função do volume do acervo. É uma prioridade das maiores, até porque, voltando à pergunta anterior, o papel da biblioteca depende da digitalização.

Falando sobre os problemas que a Biblioteca Nacional enfrentou nos últimos meses, o que ainda mais chama a atenção é a falta de ar-condicionado. É uma situação que se estende há um ano e que é prejudicial para usuários e funcionários, mas também é prejudicial para os livros. Ainda falta muito para isso se resolver?
É horrível para os livros. No pico do verão, me disseram que a temperatura no armazém de obras gerais bateu 50 graus. Você não pode ter um acervo valioso assim. O ideal são 23 graus, 22 graus. Mas, infelizmente, ainda está longe de chegarmos lá. Em marcha, começamos agora um processo de recuperação de um sistema antigo de ar-condicionado, e a estimativa que me deram é que a obra termine em 120 dias. Então a expectativa é que enfrentemos o verão com esse sistema antigo em funcionamento. Será um verão melhor do que o anterior, mas ainda longe do que a Biblioteca precisa. Já o sistema geral de refrigeração é de uma complexidade imensa e vai depender de um projeto de reforma. Temos dinheiro para isso e temos decisão de fazer a obra em seguida. Mas seria irresponsável eu dizer quando isso vai ficar pronto.
Qual a verba para essa reforma da refrigeração?
Existe um volume de recursos para as obras gerais da Biblioteca, que incluem as obras da sede e do anexo. O BNDES entra com pouco mais de R$ 40 milhões. Conseguimos também uma parte do PAC das cidades históricas, fizemos jus aos recursos porque somos um prédio histórico. E vamos ter ainda aplicações do orçamento da Biblioteca. Tudo isso vai dar um total de R$ 70 milhões. Vão ser usados para obras de estrutura, da refrigeração, da recuperação da claraboia, do reboco que andou caindo para a rua, da segurança, coisas assim. Enfim, são obras para levantar a infraestrutura. A administração anterior contratou a Fundação Getulio Vargas para fazer os termos de referência dessas obras, e eu vou ter uma reunião com eles na segunda-feira para saber em que pé isso está.
Mas olhando o acervo hoje, é possível que alguma obra tenha sofrido algum dano por causa do calor?
Não tenho notícias de danos ao acervo.
Outra questão muito discutida é a participação brasileira na Feira de Frankfurt, em outubro, quando o país será homenageado. Com a mudança na diretoria da Biblioteca Nacional, muda algo na organização da feira?
 
A participação brasileira na Feira de Frankfurt é uma política de governo que mobiliza o Ministério da Cultura e o Itamaraty. Acho importante desfazer um pouco a ideia de que a Feira de Frankfurt é a Biblioteca Nacional. Não é. A homenagem em Frankfurt significa que o governo brasileiro aceitou e entendeu que essa é uma oportunidade de promoção brasileira no exterior. O projeto é gerido por um comitê gestor, e a Biblioteca faz parte desse comitê, mas há outros integrantes, como a Funarte e o Ministério da Relações Exteriores.

Mas a Biblioteca tem um papel grande na organização
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Tem um papel grande, sim. Mas, na minha perspectiva, não é um papel compatível com as funcões próprias da Biblioteca. Como a Feira de Frankfurt tem uma dimensão econômica muito forte, algumas questões deveriam estar a cuidado dos editores do setor privado. Eu entendo que também há um interesse estratégico do Brasil, o que leva o poder público a participar, mas não me parece correto que isso seja pensado como exclusivamente fincado dentro de uma esfera estatal. Mas isso foi decidido em 2010 com comprometimentos financeiros e com o comprometimento da Biblioteca em algumas decisões, e isso será mantido. Estamos discutindo, hoje, que esse paradigma não se repita em outros eventos dessa natureza. Não cabe ao presidente da Biblioteca Nacional ser o dirigente dessa internacionalização dos livros brasileiros, e não associo o que penso sobre a Biblioteca Nacional a eventos do tipo. E ainda tenho uma reserva aos custos assumidos para a viabilização de negócios, sobretudo numa indústria que tem pujança, força e muita qualidade.
Quanto vai ser o gasto do governo em Frankfurt?
O orçamento total não vai passar de R$ 18 milhões. Desses, R$ 15 milhões vêm do orçamento do Estado brasileiro, pelo Fundo Nacional de Cultura. Já a Câmara Brasileira do Livro teve autorização para captar, via Lei Rouanet, R$ 13 milhões, dos quais nada ainda foi captado. Então, o que temos garantido hoje são R$ 15 milhões, e ainda faltam R$ 3 milhões para fechar o orçamento. Esse dinheiro virá ou de renúncia fiscal ou de patrocínio.

Houve algumas críticas sobre possíveis atrasos da preparação brasileira para Frankfurt. Alguma dessas críticas chegou ao senhor?
Com relação a prazos, nada chegou a mim. O que eu sei é que houve uma preocupação natural em relação à mudança na presidência da Biblioteca. Essas coisas são institucionais, mas envolvem relações pessoais. Então, quando há uma mudança dessas, surgem incertezas. Mas eu garanto que estamos trabalhando com a perspectiva de realizar o projeto na integridade.
Uma pergunta que é feita há anos e cuja resposta sempre foi um pouco nebulosa é sobre o número de municípios brasileiros ainda sem bibliotecas. O senhor sabe quantos faltam?
Eu não sei o número para te dizer, mas sei que é um número vergonhoso. A questão não é apenas o número de municípios sem biblioteca, mas temos que nos perguntar que bibliotecas existem e que pessoas trabalham nessas bibliotecas. Há gente que trabalha sem salários, com heroísmo. Essa é uma preocupação fortíssima da Elisa Machado, que dirige o Sistema Nacional de Bibliotecas: dar consistência a esse sistema, criando bibliotecas e fortalecendo as bibliotecas que existem.
É curioso porque, quando Galeno Amorim assumiu a presidência da Biblioteca Nacional, há pouco mais de dois anos, ele disse que faltavam “poucas dezenas” de municípios sem biblioteca no Brasil.
Eu não acho. A leitura no Brasil ainda é muito pequena, precisamos aumentar a familiaridade do brasileiro com o livro. Temos que ver isso realisticamente, como um obstáculo e desafio. Não como uma maldição que se abateu sobre a gente. A democratização do país não é só poder votar e ter liberdade para dizer o que pensa, democratização é a população ter acesso à cultura. E a biblioteca é um espaço fundamental desse processo.


Fonte:
http://www.brasilquele.com.br/

A primeira biblioteca verde da América Latina é no Rio


Cariocas que amam leitura poderão, a partir de setembro, desfrutar de um espaço que os deixará ainda mais conscientes, inclusive do ponto de vista ambiental. Em obras desde 2008, a Biblioteca Estadual do Rio de Janeiro, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, reabrirá suas portas como o primeiro espaço cultural da América Latina a ser abastecido por uma usina de energia solar, que vai reduzir o consumo do local em 30%.

Estruturada na cobertura do prédio, a usina fotovoltáica tem 162 placas que, através de 6 conversores, transformam a energia do sol em elétrica. Com isso, a biblioteca alcançará um patamar de eficiência energética suficiente para concorrer ao Selo de Ouro do LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental) — a mais alta qualificação para edifícios sustentáveis.

E as iniciativas sustentáveis da biblioteca não param por aí: haverá também captação de água da chuva para o abastecimento de pias automáticas e descargas dos banheiros. Nas salas de leitura, mesas e cadeiras utilizam fibras de garrafas PET em sua confecção e os assentos são revestidos com couro vegetal. O prédio conta, ainda, com um teto verde, ecossistema sustentável que ajuda no resfriamento do ambiente. E nem a edificação passou despercebida, pois o entulho foi direcionado a recicladoras.

“Respeitar o Meio Ambiente é uma questão cultural, pois requer consciência, acesso à informação e senso crítico”, afirma Vera Saboya, superintendente de Leitura e Conhecimento. “Por isso, entendemos que a principal biblioteca do Estado deveria se colocar no espaço público de forma que evidenciasse esses valores”, complementa.

A iniciativa é uma parceria entre o Governo do Estado e a Light, através do Programa Rio Capital da Energia, orçado em R$ 585 mil. Segundo a superintendente, o objetivo é que as demais bibliotecas públicas do Rio também sigam o modelo.

Programa educativo e visitas guiadas

Quem visitar o prédio da biblioteca depois de pronto terá uma série de motivos para sair mais informado sobre questões ligadas a sustentabilidade e Meio Ambiente.

A Biblioteca do Estado do Rio está desenvolvendo um Programa de Educação Ambiental destinado ao público, que visa discutir a temática ecológica nas mais diversas plataformas culturais. Para começar, o prédio contará com uma sala de projeção e um auditório que exibirão filmes e peças abordando assuntos da natureza.

Serão oferecidas, ainda, visitas guiadas que detalharão a estrutura sustentável do edifício, além da distribuição de panfletos que ensinam as crianças a se comportarem em prol do Meio Ambiente.

Estado conta com outras instituições sustentáveis

A energia renovável não é exclusividade da Biblioteca estadual. O Programa Rio Capital da Energia possui outras 34 iniciativas como essa, que contam com parcerias do Governo do Estado e empresas privadas, somando R$ 500 milhões em investimentos.

Um dos projetos é o Maracanã Solar, em que placas de captação dos raios serão colocadas na parte de cima do estádio. O sistema ocorre em parceria com a Light e, nos horários de maior incidência de luz, vai gerar uma quantidade de energia capaz de abastecer 200 residências.

Outro projeto será a construção de um prédio com 35 laboratórios na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que visa aumentar a infraestrutura para pesquisas em Tecnologias para Combustíveis Limpos. O esquema terá colaboração da Petrobras.

O Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Rio de Janeiro (Into) não faz parte do Programa, mas já é figura conhecida em sustentabilidade. O prédio conta com painéis solares utilizados para o aquecimento da água de chuveiros, sistema de tratamento de esgoto, reaproveitamento de água pluvial e reciclagem do lixo.
 

Sebos vendem livros por metro para decoração de escritórios e residências


 
O freguês entra na loja e pede um metro e meio de livros encadernados em papel-couro azul, de altura média, o mais barato que houver.
O pedido, que soaria estranho em uma livraria, é comum para Aristóteles Torres de Alencar Filho, 59, o "seu" Ari, dono do sebo O Belo Artístico, no Jardim América, região oeste.

Segundo o livreiro, o local recebe muitos clientes procurando livros para decoração. Nesses casos, o conteúdo não importa tanto e a ideia é encontrar o tipo de capa, a cor, o tamanho e a quantidade que mais combinem com a estante ou a sala.
O local normalmente vende por unidade, mas, no caso de grandes compras para ornamento, fecha o preço por coleção e até por medida.
No Sebo Liberdade, na região central, o metro é cobrado de acordo com o tipo de capa: R$ 150 para encadernados simples e R$ 250 para os mais trabalhados.
A venda de livros para ver mais do que para ler não é incomum, mas nem todos os estabelecimentos têm valores fixos para o serviço. No Sebo do Messias, também no centro, coleções encadernadas vendidas em pacotes ou individualmente saem a cerca de R$ 5 o volume.
"Quem precisa traz uma fita métrica e depois fazemos a conta", diz Messias Antônio Coelho, 72, dono da loja. Próximo do Tribunal de Justiça, o local recebe muitos advogados. "Eles querem encher o escritório de livros e impressionar a clientela", diz.
No Sebo Liberdade, quem compra para enfeite são profissionais liberais e decoradores. Estes dizem que é comum que clientes peçam a montagem completa da sala de casa, incluindo estantes e livros.
"Quem gosta de leitura pede obras específicas", diz a arquiteta Andrea Teixeira. "Em outros casos", ressalva, "compramos pelo visual".
Ela costuma visitar sebos procurando volumes antigos, bonitos e que combinem com o ambiente. "Às vezes compramos de um freguês direto para o outro, quando, por exemplo, alguém vai mudar para um apartamento menor", ela explica.
Foi o caso da coleção de 1968 de romances e poesia que a sócia dela, Fernanda Negrelli, adquiriu para uma cliente no Alto de Pinheiros, região oeste. A dona do imóvel prefere o anonimato.
De capa branca de papel-couro que combina com a sala de visitas, o conjunto tem lugar de realce na estante. Já os livros de leitura da família, que não são encadernados, ficam em outro cômodo.
LITERATURA DE VERDADE
No Belo Artístico, o foco são livros raros e montagem de coleções. Ari -que já teve o bibliófilo José Mindlin (1914-2010) como cliente- reserva às vendas decorativas as peças mais triviais. Entram na lista romances antigos, livros de história e enciclopédias desatualizados. No local, muitos procuram livros para adorno sem ajuda de profissionais.
Ari diz saber que essa parte do público ignora o conteúdo de seu estoque, mas jura que não se importa. "Eu acho bom, porque estão levando livros. Em uma biblioteca, alguém vai acabar consultando."
Certa vez, ele recebeu uma mulher desesperada por livros. "Mas de verdade", lembra. A cliente havia preenchido a estante de casa com livros cenográficos. Durante uma festa, porém, uma convidada puxou um título conhecido e o bloco caiu, desencadeando um sonoro "Que horror!". Ari conta com gravidade: "Ela não sabia qual das duas, ela ou a convidada, tinha ficado mais constrangida".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/