Biblioteca em Washington recupera legado de Oliveira Lima

"Visita à Oliveira Lima Library, no campus da Universidade Católica da América, em Washington, recupera o legado do historiador brasileiro que trocou as altas rodas da diplomacia para se dedicar à maior biblioteca brasiliana fora do País."

Por Laura Greenhalgh

Para quem circula no mundo dos livros, e particularmente no das bibliotecas, a grife Oliveira Lima soa como algo mítico. Mas para quem não tem tanta afinidade com o meio, este sobrenome de origem portuguesa, tão comum nos cartórios brasileiros, passa discreto, sem chamar atenção.

Como discreta é a pequena placa grudada a uma porta no subsolo da biblioteca central da Universidade Católica da América, em Washington (UCA). Lêse nela: The Oliveira Lima Library. Tocando a campainha, a porta branca de escritório se abre e, em vez de um almoxarifado, vê-se a primeira de um conjunto de quatro salas abarrotadas de livros raros e obras de arte. Quem destrava a fechadura é a única funcionária do lugar: a americana Maria Angela Leal, filha de mãe colombiana e pai cubano, formada em estudos latino-americanos na Universidade Stanford (com especialização em literatura brasileira), e que é capaz de saudar o visitante num português surpreendente. É a bibliotecária chefe, mas sem equipe a coordenar, de uma coleção brasiliana de importância comparável à do bibliófilo José Mindlin (19142010), doada para a USP, e mesmo à da Biblioteca Nacional, no Rio. Além de ser a única brasiliana fora do Brasil a constituir uma biblioteca em si mesma, e não parte de uma biblioteca geral como brasilianas recolhidas às universidades Brown, Stanford ou Texas. 

O legado do bibliófilo pernambucano Manoel de Oliveira Lima (18671928), diplomata, historiador e jornalista (foi colaborador do Estado de 1904 a 1923), é impressionante até para os padrões atuais: são 58 mil livros, perfazendo históricas conexões entre Portugal e Brasil desde os primeiros anos pós descobrimento, cerca de 600 obras de arte, entre pinturas, aquarelas, gravuras, mapas, esculturas, mais de 200 mil páginas de correspondência envolvendo 1.400 missivistas e ainda seis dezenas de grossos álbuns de recortes de jornais, o que já denuncia o espírito obstinado que paira por entre as estantes. Pois a formação desse acervo confunde-se com a vida de um intelectual contaminado pela paixão da leitura, que mesmo envolvido em altas missões da diplomacia, jamais abriu mão de produzir história, incendiar polêmicas políticas ou culturais de seu tempo e, fundamentalmente, colecionar livros raros. Mas como é mesmo que a brasiliana Oliveira Lima foi parar no basement de uma biblioteca americana? A resposta poderia partir deste ponto.

Encaixotando os livros. Aposentado da carreira diplomática ao fim de uma sequência desgastante de desentendimentos com o Barão do Rio Branco de grandes amigos na carrière viraram desafetos irreconciliáveis,Oliveira Lima resolveu um belo dia viver em Washington. Já era um nome respeitado nos círculos acadêmicos americanos, afinal foi dele o primeiro curso sobre História do Brasil ministrado nos EUA (em Harvard), o que lhe terá rendido convite posterior para um tour por 12 universidades americanas, como conferencista itinerário que ele cumpriu de trem, acompanhado por Flora Cavalcanti de Albuquerque, sua mulher e cúmplice na bibliofilia. Pois em 1916, o grand seigneur terrible do Itamaraty decide doar, em vida, seus milhares de livros para a única universidade pontifícia de Washington, de onde foi professor. Deverá ter pesado na escolha o fato de o casamento não ter lhe dado herdeiros.

A doação foi consumada em troca de apoio logístico. Como o casal dividia o acervo em endereços que mantinha em Londres, Bruxelas e Lisboa, e como a universidade se dispunha a reunir e trasladar os milhares de livros para os EUA, o doador aceitou a proposta, impondo duas condições: 1. que sua brasiliana fosse uma instituição com identidade própria e autonomia no campus; 2. que ele próprio fosse contratado como o primeiro bibliotecário a chefiar a instituição. Condições atendidas, navios zarparam em 1920 da Europa carregando um acervo que prima não só pelo volume, mas pela qualidade de seus títulos. Thomas Cohen, brasilianista e stanfordiano como Maria, há 21 anos à frente da Oliveira Lima Library, comenta: "Embora o acervo focalize a história colonial brasileira e a primeira República, Oliveira Lima jamais quis que esse patrimônio seguisse para o Brasil. Expressou o desejo em testamento, preocupado com o risco de dispersão dos livros quando ele e Flora não mais vivessem".

Assim, há mais de 90 anos essa brasiliana vive no campus da Universidade Católica da América e seria injusto afirmar que o desejo de preservação do doador não tenha sido atendido. Foi. Mas trata-se de vida modesta demais para um patrimônio que mereceria sede própria, ampla o suficiente para tirar de caixas e arquivos abarrotados os milhares de documentos colecionados pelo bibliófilo, sem falar nas obras de arte, que poderiam formatar exposições temporárias, itinerantes, permanentes. Cohen sonha fazer da Oliveira Lima um centro de estudos brasileiros em Washington aberto a pesquisadores e ao público em geral, mas para isso busca investidores tanto no Brasil quanto nos EUA. Sabese que a dotação orçamentária da universidade paga despesas básicas de manutenção e pouco sobra para a compra de títulos novos que tenham a ver com as vigas mestras da brasiliana. Quanto ao patrimônio pessoal dos Oliveira Lima, deixado por Manoel e por Flora para constituir o fundo de preservação da biblioteca, se rarefez com o tempo. Afinal, eram gente de cultura, não de grande fortuna. Hoje, a preocupação de dar não só uma sede digna, mas visibilidade a esse legado, se justifica mais do que nunca: quando for totalmente digitalizada, quem poderá garantir que a Oliveira Lima Library não vá parar num depósito de livros, numa dessas warehouses inimagináveis?

Caçador de raridades. A pergunta pode parecer apocalíptica, mas está no centro do debate atual sobre o futuro das bibliotecas acadêmicas nos Estados Unidos. E, no caso específico, a situação se complica pela quantidade de obras de arte do acervo. Em seus deslocamentos pelo mundo, como diplomata, Oliveira Lima adquiria livros raros de marchands que também comercializavam pinturas, mapas ou gravuras de boa procedência. Foi de um deles, Frederic Müller, que comprou uma paisagem de Pernambuco pintada por Frans Post (16121680), artista holandês que veio ao Brasil na comitiva de Maurício de Nassau. Trata-se de obra de tanto valor que Cohen aceitou tirála do subsolo e emprestá-la à National Gallery of Art, de Washington. Lá a tela vive em melhor estado de conservação e segurança, ao lado de mestres como Vermeer e Rembrandt. 

Outros itens atingem esse patamar de importância, como a tela de Nicolas Antoine Taunay (17551830) retratando o Largo do Machado, no Rio; o único busto em bronze de d. Pedro I, moldado pelo escultor Marc Ferrez (17881850); a única cópia colorida existente de Rerum per Octenium in Brasilia, de Gaspar Barleus (15841648), obra sobre os oito anos de administração de Nassau no Brasil, ilustrada com aquarelas de Frans Post; o primeiro livro em francês sobre o País, do franciscano Andre Thevet (15021590) La Singularité de la France Anthartique (circa 1556); belos retratos a óleo de d. João VI, personagem de alentada biografia escrita por Oliveira Lima; enfim, livros raros e obras de arte vão se entrelaçando de forma a moldar o universo intelectual de um homem saído de Pernambuco para crescer nos salões da Europa, sem perder de vista seu país de origem: a onda abolicionista, a transição do regime monárquico para o republicano, o Brasil no concerto das nações, o palco da Primeira Guerra Mundial... O sociólogo Gilberto Freyre, de quem Oliveira Lima foi grande amigo e com quem se correspondeu pela vida afora, dizia que ele tinha "um quadro mental lusitano, com certas gaucheries". E que sofria da incontinência da pena. Afinal, como explicar esse intelectual que trocou a fogueira das vaidades da diplomacia sendo ele próprio muito vaidoso para se dedicar ao mundo introspectivo dos livros e da arte? 

Um quixote gordo. Oliveira Lima nasceu em Pernambuco, filho de um negociante português que fez fortuna no comércio do açúcar. Quando estava com 6 anos, o pai decidiu voltar a Portugal com a família e lá se foi o garoto, de olho comprido no que ficou para trás. Tanto que fundou em Lisboa, aos 15, uma revista chamada Correio do Brasil. Com 21, o então aluno de Teófilo Braga se formou na Academia Superior de Letras e passou a colaborar na Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós. É nesse ponto que decide voltar à terra natal para ingressar no serviço diplomático. 

Casouse com Flora, filha de senhor de engenho em Cachoeirinha (PE), e passou a ocupar postos de representação a partir de 1890: primeiro em Lisboa, depois Berlim, Washington (sob o comando do diplomata Salvador de Mendonça, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, a ABL), Londres (onde assistiria aos funerais da rainha Victoria), Tóquio (quando mergulhou em estudos sociológicos sobre os japoneses), Caracas (depois de driblar ordens de Rio Branco de seguir para Lima), Estocolmo e Bruxelas (quando chegou a ministro plenipotenciário da embaixada). 

Nesse trânsito de vida, além de acumular livros, reservava tempo para escrever em média 15 cartas por dia (daí o total de 200 mil arquivadas na biblioteca). Entre seus missivistas, de Machado de Assis a Gilberto Freyre, se encontra a nata das letras luso-brasileiras, fora intelectuais europeus e americanos, como o geólogo e bibliófilo John Casper Brenner, que doaria uma brasiliana de 1.600 volumes para a Universidade Stanford, na Califórnia. Analisando-se essas cartas (e muito há para ser analisado), emergem os confrontos políticos e embates intelectuais em que Oliveira Lima se meteu, a ponto de Freyre o chamar de "Quixote Gordo". Há, por exemplo, a longa correspondência com Joaquim Nabuco, em que se vê de início um jovem republicano a trocar farpas com o abolicionista célebre, exilado por defender a monarquia. Acompanhando a correspondência entre ambos por mais tempo, percebe-se como trocam de posição: mais tarde Nabuco defenderia a República e Oliveira Lima a atacaria, criticando as oligarquias no poder. 

Ao tomar posse na ABL, em 1902, na cadeira 39, proferiu um discurso oceânico exaltando a figura do historiador Francisco Varnhagen (18161878), mas aproveitou para ajustar contas com a diplomacia brasileira ("deixou de ser arte para virar uma profissão"). Não faltaram alfinetadas ao chanceler Rio Branco. Um dos pontos de divergência entre ambos era a anexação do Acre, alvo do inconformismo de Oliveira Lima. Considerava o País grande (e mal administrado) demais para ganhar outro naco territorial. Não houve acordo entre Quixote Gordo e Juca Paranhos este, filho do Visconde de Rio Branco, figurão do império. 

Entre patranhas e artimanhas do Itamaraty foi tachado de monarquista ao criticar republicanos e germanófilo por defender a neutralidade brasileira na Primeira Guerra Mundial , Oliveira Lima preferiu aposenta-se da diplomacia para se dedicar ao jornalismo, à crítica literária e, acima de tudo, aos livros que colecionou e escreveu. 

As missões de representação renderam várias obras, como Nos EUA (1899), No Japão (1914), Na Argentina (1919). Além da biografia de d. João VI, deixou outras obras históricas, como Memórias Sobre o Descobrimento do Brasil e História Diplomática do Brasil, alguns títulos escritos originalmente em francês, como Machado de Assis et Son Oeuvre Littéraire ou Sept Ans de Republique au Brésil, e ainda teve tempo de escrever suas Memórias, obra editada nos anos 30 por Flora, já viúva, e Gilberto Freyre. 

Quixote Gordo fez a alegria dos chargistas com seu corpanzil de pernas afinadas e barriga proeminente, embora a obesidade lhe tenha causado inúmeros problemas de saúde. Na foto da página ao lado, em que aparece com a cúpula da Universidade Católica da América, quatro anos depois da chegada dos livros à biblioteca, se vê como estava magro, rosto abatido e flácido, olhar melancólico. Trabalhou na sua brasiliana até morrer, quando foi substituído por Flora (que mais tarde contrataria o historiador português Mauricio Cardozo, ex-aluno de Gilberto Freyre, 45 anos depois substituído pelo brasilianista Richard Morse, e por fim substituído por um de seus alunos, Thomas Cohen). A residência do casal em Columbia Heights, não distante da universidade, foi vendida após a morte de Flora e o produto da transação também ficou para a biblioteca. Oliveira Lima não quis outras glórias. Da lápide de seu túmulo no Cemitério Mont Olivet, na capital americana, nem seu nome consta. Apenas o epitáfio: "Aqui jaz um amigo dos livros".

Aos livros cabe inspirar o diálogo e a tolerância, diz Unesco


Antecipando o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, que se celebra no próximo dia 23 de Abril, a BAD divulga a mensagem que Irina Bokova, directora-geral da UNESCO, escreveu para assinalar este Dia em 2015. A luta contra o analfabetismo junto dos jovens e dos grupos sociais mais desfavorecidos, numa perspectiva inclusiva e por meio das tecnologias da informação, é um dos principais vectores da sua mensagem. Aos livros, diz Irina Bokova, cabe a missão de “inspirar a compreensão, o diálogo e a tolerância”.

O Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor é uma oportunidade para reconhecer o poder dos livros na mudança das nossas vidas para melhor e para apoiar os livros e aqueles que os produzem.

Como símbolos globais de progresso social, os livros – aprendizagem e leitura – tornaram-se alvos para aqueles que denigrem a cultura e a educação, que rejeitam o diálogo e a tolerância. Nos últimos meses, temos visto ataques contra crianças nas escolas e a queima pública de livros. Neste contexto, o nosso dever é claro – devemos redobrar os esforços para promover o livro, a caneta, o computador, juntamente com todas as formas de leitura e de escrita, de modo a combater o analfabetismo e a pobreza, a construir sociedades sustentáveis, e a fortalecer as bases da paz.

A UNESCO tem liderado a luta contra o analfabetismo, a ser incluída como elemento fundamental nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de 2015. A alfabetização é a porta para o conhecimento, essencial para a auto-estima e o empoderamento individuais. Os livros, em todas as formas, desempenham um papel essencial neste aspecto. Com 175 milhões de adolescentes no mundo – a maioria meninas e mulheres jovens – incapazes de ler uma única frase, a UNESCO está empenhada no domínio das tecnologias de informação e comunicação, em especial as tecnologias móveis, de forma a apoiar a alfabetização e a alcançar os excluídos com aprendizagem de qualidade.

Os livros são plataformas de valor incalculável para a liberdade de expressão e o livre fluxo de informação – estes são essenciais para todas as sociedades actuais. O futuro do livro como objeto cultural é inseparável do papel da cultura na promoção de vias mais inclusivas e sustentáveis ??para o desenvolvimento. Através da sua Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, que celebra o seu 10º aniversário este ano, a UNESCO pretende promover a leitura entre os jovens e os grupos marginalizados. Estamos a trabalhar com a International Publishers Association, a International Booksellers’ Federation e a International Federation of Library Associations para apoiar as carreiras profissionais nas editoras, livrarias, bibliotecas e escolas.

Este é o espírito norteador de Incheon, na Coreia do Sul, que foi designada Capital Mundial do Livro 2015, em reconhecimento do seu programa para promover a leitura entre as pessoas e as camadas mais desfavorecidas da população. Esta designação entra em vigor no Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor e será comemorada com os participantes do ano anterior, Port Harcourt, na Nigéria.

Com Incheon e toda a comunidade internacional, vamos unir-nos para comemorar os livros como a personificação da criatividade, o desejo de compartilhar ideias e conhecimentos, para inspirar a compreensão, o diálogo e a tolerância. Esta é a mensagem da UNESCO sobre o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor.

Mensagem de Irina Bokova, Directora-Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor 2015.

Menino de 7 anos arrecada livros e monta biblioteca para crianças sem-teto

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Mesmo tímido e de poucas palavras, Blake Ansari, 7, já arrecadou quase 6 mil livros nos Estados Unidos em pouco mais de um ano. Ele mobilizou empresas, amigos e instituições por um único desejo: ajudar crianças desabrigadas a ter acesso à leitura.

“Espero que todas as crianças sem casa tenham sucesso em várias coisas. Desejo que eles tenham a chance de ir para a faculdade e se tornem adultos bem sucedidos”, disse ao UOL em um encontro realizado no último dia 21 de março, numa manhã gelada da recém-chegada primavera norte-americana.

A história começa em uma noite próxima ao Natal de 2013, quando a mãe de Blake, Starita Boyce Ansari, leu em voz alta uma série de reportagens publicadas pelo jornal norte-americano “New York Times” sobre o dia a dia de uma menina de 11 anos desabrigada e de sua família. Segundo a reportagem, estima-se que mais de 22 mil crianças morem nas ruas de Nova York, o maior número desde a grande crise econômica mundial de 1929.

Blake Mini Library. Reprodução Facebook/blakeminilibrary.
Blake Mini Library. Reprodução Facebook/blakeminilibrary.

Na manhã seguinte, enquanto tomava o café da manhã, o garoto virou para os seus pais e indagou “isso significa que eles não têm uma biblioteca, não é? Eles deveriam ter uma”, lembrou Starita, que é doutora em filantropia, mas parou de trabalhar para cuidar do filho.
“Eu vi que eu devia ajudá-los a ter sucesso”, lembrou Blake sobre o dia em que teve a ideia.

“Não posso dizer não, eu pensei. Se ele quer ajudar as crianças, por que não?! Ele está certo”, contou Starita.

Com a ajuda da mãe e do pai, Nuri Ansari, Blake começou a pedir doações de livros para os amigos. Sua família não perdeu tempo e começou a fazer ligações para os conhecidos com o mesmo pedido.

“Eu falei com meus amigos e eles disseram que poderiam ajudar aos sábados e domingos [na organização dos livros arrecadados]”, lembrou Blake.

Uma nova biblioteca

Segundo Starita, no início foi complicado achar um abrigo que pudesse receber a Blake Mini Library (Minibliblioteca de Blake). No entanto, a experiência profissional de Nuri, que trabalha há mais de 20 anos com o desenvolvimento de programas para desabrigados e ex-presidiários, ajudou.

“O pai de Blake começou a conversar com algumas pessoas e conseguimos um abrigo para instalar a minibiblioteca”, explicou Starita.

Blake Mini Library. Reprodução Facebook/blakeminilibrary.
Blake Mini Library. Reprodução Facebook/blakeminilibrary.

Com a repercussão do projeto, empresas e instituições abraçaram a ideia. “As pessoas foram conhecendo e começaram a doar. Em setembro do ano passado, Blake começou a dar palestras e pedir mais doações”, disse sua mãe.

A biblioteca foi oficialmente fundada no dia 6 de janeiro de 2014 e, em pouco mais de um ano, quase 6 mil livros já foram arrecadados e disponibilizados em um abrigo temporário, localizado no Brooklyn. No local, crianças e adolescentes são autorizados a ficar com cinco livros cada. O objetivo é que eles comecem suas próprias bibliotecas. “A ideia não é só ler o livro. É usá-lo mesmo. A ideia é ajudá-los mais”, afirmou Starita.

Carta para Barack Obama

O objetivo de Blake não para por aí. Mesmo já tendo arrecadado uma significativa quantidade de livros, ele quer mais. O garoto chegou a escrever uma carta para o presidente dos Estados Unidos pedindo que ele doe mais livros para as crianças sem-teto.
“Eu enviei a carta em janeiro [deste ano], mas até agora não tive resposta”, sussurrou o jovem cabisbaixo.

“Quero que existam bibliotecas por todo o país. Por todo o mundo”, destacou Blake. “Obrigado por doarem livros. E espero que todos no Brasil sejam bem sucedidos”, disse ao mandar um um recado para os brasileiros.

"A Pátria tem o dever de garantir a todos uma educação de qualidade social"

“Ao bradarmos Brasil, pátria educadora estamos dizendo que a educação será a prioridade das prioridades”, destacou a presidenta por ocasião de sua posse do seu segundo mandato. Na mesma ocasião lançou como slogan do seu novo governo o lema “Pátria Educadora”.

Passado poucos dias desse discurso, a presidenta anunciou um corte no orçamento de 2015 de R$ 22,7 bilhões, sendo que a maior parte foi no Ministério da Educação, de R$ 7 bilhões. Ou seja, a suposta política de priorizar a educação se revelou em um brutal corte de recursos na área.

Tal medida gerou uma grave crise na Educação, forçando o adiamento do início das aulas em diversas universidades por falta de serviços básicos como limpeza e segurança.
Greves de professores explodiram em alguns estados como Paraná e mais recentemente em São Paulo.

No bojo da crise, o ex-ministro da Educação Cid Gomes deixou o cargo após chamar os deputados federais de “achacadores” em audiência do plenário da Câmara. Em seu lugar assumirá o cargo a partir de hoje o filósofo e professor da Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro.

“O professor Renato Janine, muito embora seja um acadêmico de renome, não se pode afirmar que esteja às voltas, concretamente, com as questões educacionais de um país continental como o Brasil”, afirma o professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Faculdade de Educação (UERJ/EDU), professor Permanente do PPG em Políticas e Formação Humana (PPFH) e Membro do Conselho Nacional e Diretor Executivo da Cátedra REGGEN/UNESCO, Zacarias Gama. Nesta entrevista à Revista Biblioo, Gama faz um breve balanço sobre o cenário atual da Educação brasileira.

Zacarias Gama. Foto: extra.globo.com.
Zacarias Gama. Foto: extra.globo.com.

O que pode significar a saída de um político como Cid Gomes do MEC e a entrada de um acadêmico como Renato Janine?

Sem dúvida a troca de algum ministro sempre pode significar muita coisa, desde questões políticas e palacianas; no caso parece estar a intenção de dar ao MEC uma proximidade maior com os problemas do nosso Sistema de Educação Nacional e às suas necessidades mais imediatas. Mesmo assim, precisamos ressaltar que o prof. Renato Janine, muito embora seja um acadêmico de renome não se pode afirmar que esteja às voltas, concretamente, com as questões educacionais de um país continental como o Brasil. O que conheço de sua obra não chega o chão da escola básica. Mas, ressalve-se: sempre é preferível um acadêmico na condução do MEC.

A despeito do lema do segundo mandato da presidenta Dilma, “Pátria educadora”, o que se viu foi um encolhimento de recursos destinados a este setor. O senhor acredita que uma saída é possível? Se sim, o que pode ser feito?

Acredito que este slogan merece alguns comentários. Penso que o País tem o desafio de educar todos os brasileiros, em idade escolar ou não, para os novos tempos que vem por ai, tempos de muitas tecnologias que estarão presentes cada vez mais nos meios de comunicações individuais e coletivos, transportes, agências de serviços, eletrodomésticos … enfim, em nosso cotidiano. Mas não apenas por isto. A Pátria tem o dever de garantir a todos uma educação de qualidade social.

A educação exige que a Pátria seja educadora como condição de não excluir todos nós da sociedade do século XXI De igual modo é preciso educar para uma nova sociabilidade com mais escolaridade e longevidade, acesso aos direitos, informações etc. Não é uma tarefa fácil e não compete apenas à Presidente, mas a todos nós. Ademais o Brasil se comprometeu a estar em patamares dos países mais desenvolvidos em termos de desempenho dos estudantes da escola básica em Português, Matemática e Ciências. 

Apesar dos avanços dos últimos anos, nós ainda estamos distantes da qualidade educacional de referência social que queremos e precisamos. Os avanços realizados ainda se situam na ordem das quantidades – universalização da educação básica até o ensino fundamental, crescimento da rede física de escolas profissionalizantes e instalação de novos campi de educação superior. No que se refere aos aspectos qualitativos há ainda muito que fazer, a começar pela melhoria dos cursos superiores de formação teórica e prática; maior agregação de valor aos produtos das pesquisas, inovações e tecnologias etc.

É uma pena que em face desta problemática de tamanhas proporções haja contingenciamento dos recursos da educação nacional. Penso que um Pacto Nacional pela Educação seja mais do que imprescindível. Todos precisamos definir que Pátria Educadora queremos.

A crise na educação parece também ter acertado em cheio as universidades públicas com cortes que afetaram serviços básicos como limpeza e segurança. É possível dizer que o Governo está precarizando estas instituições em detrimento das universidades particulares?

As universidades públicas, e também as universidades particulares, estão em processo de redefinição de responsabilidade em tempos de globalização e internacionalização da educação superior. 

A questão da limpeza e segurança dos prédios é importante mas tem menor importância quando focalizamos os objetivos fins da universidade: formação, pesquisa, extensão e administração. Nossos governantes, regra geral, subestimam as universidades de pesquisas e limitam os seus potenciais para o desenvolvimento estratégico do país. Alguns governantes, sem dúvida alguma, precarizam as universidades até por não as conhecerem em termos de produção científica. Também as pressões das universidades privadas sobre as universidades públicas são grandes, na medida em que poucas têm condições de acompanhar a produção de ciência, inovação e tecnologia que elas realizam. 

O jogo político e de interesses nos bastidores tem cacife alto e muitas vezes pressiona no sentido de transformar as universidades as universidades em grandes escolões e diplomas com pequeno ou nenhum valor agregado.

5 dicas infalíveis para gostar de ler

Ana Lourenço - Guia do Estudante 

Quando eu estava no colégio, era normal ser chamada de nerd pelos meus amigos porque eu estava sempre carregando um livro, ou mais de um. Na minha sala, alguns colegas gostavam de ler, mas a maioria não era muito fã, não. Por algum tempo, eu achava que isso era uma coisa que você simplesmente tinha: tem gente que gosta de ler, tem gente que não. Hoje, sei que não é exatamente isso. O hábito de gostar de ler não é nada mais do que um treino, ou seja, requer bastante prática e persistência.

Eu sou uma leitora compulsiva desde pequena, mas conheço muitas pessoas que não eram, e se tornaram depois de adultas. Por isso, se você não gosta de ler mas sente que deveria, fique tranquilo: ninguém nasce gostando. Se você tem disposição e quer que esse se torne um hábito seu, há algumas dicas simples que você pode seguir. Veja qual pode te ajudar e comente depois se funcionou!

1. Comece com séries ou best-sellers

Um best-seller só é muito vendido por um motivo: o público adora. Normalmente, eles agradam muita gente porque são tramas mais envolventes, ou até com a linguagem fácil e divertida. Que tal dar uma chance a eles? Podem ser sua porta de entrada para o gosto pela leitura. Assim, também, são as séries de livros, aquelas histórias contadas em mais de um volume. Normalmente, cada livro da série acaba deixando algo inacabado, que só vai ser resolvido no próximo livro (ou até no último), ou seja: nada melhor para atiçar sua vontade de devorar o próximo volume.

2. Leia inspirações ou adaptações

Adorou o último filme do Jogos Vorazes? Ficou viciado no game Diablo 3? Já pensou em ir atrás dos livros que foram inspiração, ou foram inspirados neles? Você provavelmente já sabe, mas as sagas Jogos Vorazes e Divergente são baseadas em livros, assim como A culpa é das estrelas. Se você adorou os filmes, vá atrás dos livros: muita gente desperta o interesse na leitura desse jeito. Se você não é muito fã de filmes, mas adora games, a moda de escrever livros baseados nas histórias dos jogos está cada dia mais em alta. Nos últimos anos, títulos como Assassin’s Creed, Diablo, God of War e Battlefield já ganharam suas adaptações literárias. Se você já adora o jogo, dobram as chances de querer ler o livro.

3. Descubra seu gênero

Cada um tem o seu gosto. A questão está em descobrir qual é o seu. Talvez você não seja muito chegado em leitura justamente porque não fez essa descoberta ainda. Se você não gosta dos livros que a escola obriga a ler, não significa que você não vá se interessar por leitura em geral. Então, se seu estilo não é exatamente ler os clássicos, não se preocupe, há muitos e muitos outros gêneros literários: ficção científica, terror, suspense, romance, fantasia. Encontre o seu e divirta-se!

4. Não insista se não estiver gostando

Como falei no item anterior, insistir em uma coisa que você obviamente não está gostando não ajuda em nada. Só vai fazer você sentir como se aquilo fosse uma obrigação, o que tira todo o prazer e a vontade de continuar. Por isso, se estiver achando aquele livro um saco, desista dele e parta para o próximo. Mas isso não significa, também, não gostar do primeiro parágrafo e já jogar o livro para o lado. Dê mais uma lida (um capítulo, pelo menos), porque alguns livros demoram para “engatar”. Se, mesmo assim, você não curtir, pode ir procurar o seguinte.

5. Reserve um tempo diário para ler

Aqui, eu retomo o que disse no início do post: gostar de ler é treino, e, por isso, precisa de bastante empenho, dedicação e vontade. Se você quer gostar de ler, primeiro precisa fazer da leitura um hábito. Reserve algum tempo todos os dias para se dedicar àquele livro. Pode ser do jeito que você quiser: ler no ônibus; ler à noite, em casa; ler no intervalo das aulas; ler até no banheiro. O importante é fixar essa rotina e o tempo que você dedica a ela, seja meia hora, seja uma ou mais horas. Você também não deve desistir se ficar com preguiça, porque, como eu disse, esse é um exercício de persistência!

Eu garanto, o esforço vale a pena. Logo você poderá ser também um fanático pela (alerta de clichê) magia que é ler um livro. Vem amar ler com a gente!