O freguês entra na loja e pede um metro e meio de livros
encadernados em papel-couro azul, de altura média, o mais barato que houver.
O pedido, que soaria estranho em uma livraria, é comum para
Aristóteles Torres de Alencar Filho, 59, o "seu" Ari, dono do sebo O
Belo Artístico, no Jardim América, região oeste.
Segundo o livreiro, o local recebe muitos clientes procurando livros para decoração. Nesses casos, o conteúdo não importa tanto e a ideia é encontrar o tipo de capa, a cor, o tamanho e a quantidade que mais combinem com a estante ou a sala.
Segundo o livreiro, o local recebe muitos clientes procurando livros para decoração. Nesses casos, o conteúdo não importa tanto e a ideia é encontrar o tipo de capa, a cor, o tamanho e a quantidade que mais combinem com a estante ou a sala.
O local normalmente vende por unidade, mas, no caso de
grandes compras para ornamento, fecha o preço por coleção e até por medida.
No Sebo Liberdade, na região central, o metro é cobrado de
acordo com o tipo de capa: R$ 150 para encadernados simples e R$ 250 para os
mais trabalhados.
A venda de livros para ver mais do que para ler não é
incomum, mas nem todos os estabelecimentos têm valores fixos para o serviço. No
Sebo do Messias, também no centro, coleções encadernadas vendidas em pacotes ou
individualmente saem a cerca de R$ 5 o volume.
"Quem precisa traz uma fita métrica e depois fazemos a
conta", diz Messias Antônio Coelho, 72, dono da loja. Próximo do Tribunal
de Justiça, o local recebe muitos advogados. "Eles querem encher o
escritório de livros e impressionar a clientela", diz.
No Sebo Liberdade, quem compra para enfeite são
profissionais liberais e decoradores. Estes dizem que é comum que clientes
peçam a montagem completa da sala de casa, incluindo estantes e livros.
"Quem gosta de leitura pede obras específicas",
diz a arquiteta Andrea Teixeira. "Em outros casos", ressalva,
"compramos pelo visual".
Ela costuma visitar sebos procurando volumes antigos,
bonitos e que combinem com o ambiente. "Às vezes compramos de um freguês
direto para o outro, quando, por exemplo, alguém vai mudar para um apartamento
menor", ela explica.
Foi o caso da coleção de 1968 de romances e poesia que a
sócia dela, Fernanda Negrelli, adquiriu para uma cliente no Alto de Pinheiros,
região oeste. A dona do imóvel prefere o anonimato.
De capa branca de papel-couro que combina com a sala de
visitas, o conjunto tem lugar de realce na estante. Já os livros de leitura da
família, que não são encadernados, ficam em outro cômodo.
LITERATURA DE VERDADE
No Belo Artístico, o foco são livros raros e montagem de
coleções. Ari -que já teve o bibliófilo José Mindlin (1914-2010) como cliente-
reserva às vendas decorativas as peças mais triviais. Entram na lista romances
antigos, livros de história e enciclopédias desatualizados. No local, muitos
procuram livros para adorno sem ajuda de profissionais.
Ari diz saber que essa parte do público ignora o conteúdo de
seu estoque, mas jura que não se importa. "Eu acho bom, porque estão
levando livros. Em uma biblioteca, alguém vai acabar consultando."
Certa vez, ele recebeu uma mulher desesperada por livros.
"Mas de verdade", lembra. A cliente havia preenchido a estante de
casa com livros cenográficos. Durante uma festa, porém, uma convidada puxou um
título conhecido e o bloco caiu, desencadeando um sonoro "Que
horror!". Ari conta com gravidade: "Ela não sabia qual das duas, ela
ou a convidada, tinha ficado mais constrangida".
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/
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