Era dos tablets transforma o momento da leitura para dormir



Douglas Quenqua - 29/10/14






Nova York, EUA. O cachorrão da história “Clifford, o Gigante Cão Vermelho”, fica lindo no iPad. E tem um som ótimo – basta tocar na tela para que ele comece a arfar quando o caminhão azul aparece na cena. “Lá vai o caminhão!”, vibra o narrador. Mas será que isso conta como hora da história? Ou será só um momento para os pequenos brincarem com os tablets?

É uma pergunta a que os pais, pediatras e pesquisadores tentam responder agora que os livros infantis, assim como todos os outros, estão migrando para a mídia digital.

Durante anos, especialistas em desenvolvimento infantil vêm aconselhando os pais a lerem para os filhos com frequência, citando estudos que mostram os benefícios linguísticos, verbais e sociais da atividade. Em junho, a Academia Americana de Pediatria passou a orientar os médicos a indicar que os pais leiam para as crianças desde o nascimento, prescrevendo livros com o mesmo entusiasmo com que indicam vacinas e verduras.

Por outro lado, não recomenda o uso de monitores ou telas para crianças de até 2 anos, e não mais do que duas horas de tablets ou computadores por dia para as mais velhas.

Em uma época em que ler cada vez mais significa navegar por um dispositivo e lojas de aplicativos estão estourando com programas de leitura e jogos educativos destinados a bebês e crianças em idade pré-escolar, qual a orientação que os pais devem seguir? A resposta ainda não está totalmente clara.

“Sabemos como as crianças aprendem a ler, mas não sabemos como esse processo será afetado pela tecnologia digital”, disse Kyle Snow, diretor de pesquisa aplicada da Associação Nacional de Educação Infantil.

Efeitos. Parte do problema é que esses dispositivos são muito recentes. Os tablets e leitores eletrônicos não são usados há tempo suficiente para que um estudo estendido possa revelar seus efeitos na aprendizagem.

Mas muitos estudos recentes sugerem que ler para uma criança utilizando um dispositivo eletrônico enfraquece a dinâmica que auxilia no desenvolvimento da linguagem. “Há um monte de interação quando você lê um livro para seu filho; você vira as páginas, aponta para fotos, comenta a história. Isso se perde um pouco quando o e-book é utilizado”, disse a pediatra Pamela High.

Em um estudo de 2013, pesquisadores descobriram que crianças entre 3 e 5 anos cujos pais leem para eles em um livro eletrônico tinham uma compreensão menor do conteúdo da leitura do que as crianças cujos pais usam livros tradicionais. E disseram que, em parte, a razão disso é que pais e crianças usando um dispositivo eletrônico gastam mais tempo prestando atenção no objeto em si do que na história (uma conclusão compartilhada por pelo menos dois outros estudos).

“Os pais literalmente seguravam as mãos das crianças e diziam: ‘Espera, não aperte o botão ainda. Vamos terminar isso aqui primeiro’”, disse Julia Parish-Morris, psicóloga do desenvolvimento do Hospital Infantil da Filadélfia e principal autora do estudo.

Os pais que usaram livros convencionais estavam mais propensos a se envolver no que pesquisadores de educação chamam de “leitura dialógica”, o tipo de conversa vaivém sobre a história e sua relação com a vida da criança, que a pesquisa mostrou ser fundamental para o desenvolvimento linguístico infantil.

Presença

Livros. Mesmo que a tecnologia se estabeleça como parte da infância, bons livros provavelmente não irão desaparecer tão cedo. Os pais percebem que há um componente emocional nos livros de histórias.

(The New York Times)

Fonte: otempo

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