Deficiência visual inspirou Fábio a ser professor


Aos sete anos de idade, Fábio decidiu que seria professor. A decisão foi tomada com um dos primeiros livros que ele leu em mãos. Fábio queria ensinar outras pessoas a lerem para que elas pudessem sentir o mesmo prazer que ele experimentava naquele momento.

Fábio nasceu cego. Apesar da deficiência, ele enfrentou suas limitações e, hoje, como professor, quer ensinar aos seus alunos que eles são capazes de alcançar objetivos.

“A deficiência visual foi uma das maiores inspirações para que eu estudasse. Quando você tem uma deficiência, você foca em superar barreiras e dificuldades e em alcançar novos objetivos. A leitura é uma grande oportunidade para você conseguir vencer, porque ela te abre portas”, diz Fábio Deodato dos Santos Silva, 32 anos, professor da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Raul Machado, no bairro Santa Cruz.

Nascido em São Paulo, Fábio foi diagnosticado com cegueira congênita aos três meses de idade. Os pais dele procuraram diversos especialistas, mas todos apresentaram o mesmo diagnóstico: a deficiência era irreversível.

A partir dos três anos, ele passou a ter aulas de estimulação e mobilidade. Aos seis anos, começou a frequentar uma escola municipal. “Na minha sala, eu era o único aluno com deficiência”.

Antes mesmo de saber ler em braile, Fábio já conheceu os livros com a ajuda dos pais. “Minha mãe lia muito pra mim. Lembro também que meu pai me contava histórias sobre o Nordeste, de onde ele e minha mãe vieram. Depois, passei a apropriar dos livros em braile e, hoje, uso os livros digitais também. Gosto de ler livros voltados para educação, para me atualizar, livros religiosos, filosóficos e romances, porque sou um cara romântico”, conta.

Quando terminou a terceira série, Fábio veio para Ribeirão Preto, onde concluiu os estudos em escolas públicas. Depois, cursou técnico em administração de empresas, Pedagogia e fez duas especializações: uma em atendimento educacional especializado e outra sobre ações antidrogas.

Há quatros anos e meio, Fábio é professor na escola Raul Machado, numa sala de recursos multifuncionais. “O objetivo da sala é utilizar recursos de acessibilidade para que os alunos consigam estudar bem no ensino regular, estudar com a inclusão garantida, com a apropriação do conhecimento”.

Valorização do professor é o primeiro passo da inclusão

Ser professor foi uma escolha acertada. Eu ajudo as pessoas a crescerem. Eu acredito que meus alunos podem alçar voo e podem, um dia, estar sentados em cadeiras que ocupem cargos estratégicos. Eles podem ir além até das próprias possibilidades que eles mensuram. E mais: eles podem promover uma mudança de mentalidade na sociedade”, afirma Fábio.

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Raul Machado, 25 alunos com deficiências visuais participam das aulas do professor. A escola criou diversos projetos para promover uma inclusão responsável. Entre eles, está a Semana da Educação Inclusiva, que foi realizada na semana passada.

“Nunca levei minha deficiência como uma diferença negativa. Percebo limitações que a deficiência me impõe. Tenho que me adaptar. Mas, uma coisa é você ter a deficiência, outra é conviver com alguém que tem deficiência. Ter é sentir todos os impactos no seu dia-a-dia. Conviver é aprender com isso, mas não significa sentir como a pessoa com deficiência sente”.

Porém, para que a inclusão realmente funcione, Fábio diz que a base do processo, o professor, precisa ser valorizado. “O professor é o sujeito que vai permitir a mediação do conhecimento para os alunos, que serão combustíveis e comburentes para incendiar a inclusão. A partir da escola, com a formação do senso crítico e do cidadão, os alunos serão luz para esse caminho inclusivo”.

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