O
Brasil é um país de extremos quando o assunto é o mercado de livros. Por um
lado, o setor, o nono maior do mundo, movimenta cerca de R$ 5 bilhões por ano,
de acordo com estimativas da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Por outro, o
brasileiro é mundialmente conhecido por ler pouco. O lado bom desse contraste é
que o mercado tende a crescer e enfraquece a tese de que os livros digitais
irão acabar com os impressos. “Se metade da população não lê, temos um espaço
enorme para crescer”, diz Karine Pansa, presidente da CBL.
O
brasileiro, realmente, lê pouco?
Se
compararmos a outros mercados mundiais, o Brasil é um dos últimos colocados.
Aqui, lemos por volta de 1,8 livro por ano. Mas não podemos enxergar esses
números de forma pessimista. Afinal, se metade da população não lê, temos um
espaço enorme para crescer.
E
como fica o mercado editorial nesse cenário?
Apesar
de termos registrado queda de volume no último balanço, nosso faturamento
aumentou. Mas reconheço que precisamos melhorar muito, especialmente nosso
sistema educacional.
O
que fazer para aumentar o interesse pela leitura?
Mesmo
com bons programas do Ministério da Educação, tanto para escolas quanto para
bibliotecas, isso é insuficiente para um país de dimensões continentais. Também
é imprescindível estimular pais e professores, que são grandes disseminadores
dos hábitos de leitura.
Financeiramente,
o setor é dependente do governo?
Se
olharmos em termos de faturamento, sim. Quase 40% das vendas são para o
governo. Essa dependência não acaba do dia para a noite.
O
vale-cultura surge como uma ajuda ao mercado editorial?
Certamente.
Segundo dados do MEC, cerca de 90% do valor concedido é utilizado para a compra
de livros, jornais e revistas. E, diferentemente do que muita gente prega, o
vale-cultura não é um programa eleitoreiro. Ele fomenta algo que está em falta
no País.
O
que as editoras estão fazendo, ou precisam fazer, para contribuir para a
melhora desse cenário?
As
editoras estão analisando melhor os produtos que lançam e avaliando os melhores
locais para colocá-los à venda. Além disso, estão se preparando para superar a
fraca infraestrutura brasileira. Para um livro editado em São Paulo chegar ao
Oiapoque, custa dinheiro e demora muito tempo.
Então,
o livro no Brasil ainda é muito caro?
Ainda
convivemos com essa percepção, mas não é totalmente verdade. Nos últimos dez
anos, o preço do livro caiu 40% no País. Mas não é pelo preço que não temos
leitores: uma pesquisa nossa mostra que o principal motivo é a própria falta de
interesse.
O
livro digital tem capacidade de crescer no Brasil?
Há
cinco anos, víamos o livro digital como um bicho de 50 cabeças. Mais tarde,
aprendemos a trabalhar com ele e constatamos que não era o flagelo que se
desenhava. Dito isso, é preciso ficar claro que o papel está muito longe de
acabar. O digital representa menos de 0,1% do faturamento, mas também não
podemos desacreditar nele.
E
como fazer para não depender do governo para o setor crescer, tanto no mercado
físico quanto no digital?
Temos
de mudar algumas práticas, pois não há um planejamento conjunto das editoras.
Existe a preocupação, mas não posicionamentos. É necessário se atentar para
ações que podem prejudicar o setor, como a lei dos direitos autorais. O setor
livreiro viu que tudo mudou e, agora, precisa se atualizar.
As
Bienais podem ajudar na busca por novos consumidores?
Sim.
A Bienal do Livro de São Paulo, por exemplo, teve mais de R$ 7 milhões em
vendas. Isso é resultado da criação de um ambiente diferente para leitores, que
passaram a ver o livro como algo prazeroso, e expositores, que tinham um local
estimulante de negócios.
Fonte: Blog do Galeano
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