Museu Martensen faz 10 anos

Por Willy Cesar*


O Museu da Comunicação Rodolfo Martensen completa 10 anos em 6 de abril de 2011. Foi em 2001, como um dos eventos da 8ª Festa do Mar, que o entregamos à comunidade, na rua Luiz Loréa, 261, 1º. andar, ainda hoje no mesmo local. O museu foi nascendo aos poucos, à medida em que os equipamentos da emissora que dirigíamos, a Rádio universidade do Rio Grande FM Educativa, aposentava equipamentos ultrapassados tecnologicamente. Para fundá-lo, levamos 10 anos. Foram indispensáveis os apoios da Fundação de Radiodifusão Educativa do Rio Grande (Furerg), da Noiva do Mar que forneceu quase todas as prateleiras metálicas, e do Museu Histórico que cedeu expositores de vidro. Dois anos depois, o acervo passou à Furg por doação da Furerg.

As peças históricas da exposição foram doadas por centenas de pessoas e por veículos de comunicação como as rádios universidade FM (Furg FM atual), Minuano e Cassino; Rede Nativa de Comunicação (rádio e TV), Organizações Risul (coleção d’O Peixeiro e exemplares do Agora), TV Pampa e Grupo RBS. Das sete mil peças iniciais, a maior parte eram discos de vinil. Hoje o acervo conta com mais de 20 mil peças. A maior parte está em permanente exposição aberta ao público gratuitamente.

O inventário do acervo ainda não foi feito. Como qualquer entidade cultural no Brasil, os obstáculos são os mesmos: faltam recursos e infraestrutura. Ainda não saiu da condição inicial de museu amador. É atendido por uma única pessoa, o abnegado jornalista Célio Soares e dirigido pela jornalista Rosane Borges Leite. Os museus verdadeiramente assim considerados precisam submeter cada peça histórica à pesquisa. A quase totalidade do acervo do Museu Martensen continua do mesmo jeito que chegou, sem catalogação e sem pesquisa sobre sua procedência, ano de fabricação, modelo etc. Isso um dia virá, se Deus quiser. Ainda assim, cumpre suas finalidades culturais de preservar para ensinar.

Dirigimos o museu até 9 de março de 2005. Hoje atuando como simples colaborador, encaminhamos dezenas de peças históricas como projetores de filmes, películas em celulóide, discos, rádios, televisor, eletrola e outras. Contando com a colaboração da Prefeitura/Smec, da Ipiranga e do Museu Martensen, editamos dois DVDs em 2006, em prosseguimento à série Rio Grande – Imagens do Século 20. Estamos desenvolvendo mais dois DVDs. Também realizamos pesquisa para lançar, em breve, o CD ‘No reino de dona Música’, com as divas do canto lírico da cidade, em gravações históricas das décadas de 1950 e 60.

Rodolfo Lima Martensen, Ruddy na intimidade, é o patrono. Ele esteve nas salas do museu que carrega seu nome em 27 de setembro de 1991.  A convite deste jornalista, gravou depoimento para o Projeto Memória, programa que apresentávamos na emissora universitária. Rio-grandino nascido em 1915, Martensen ase criou na rua Andradas quase esquina Marechal Floriano onde colocou no ar a primeira rádio pirata da cidade em 20 de setembro de 1931.

Ele tinha somente 16 anos de idade. No mês seguinte, a emissora EAX-4 transformada na Rádio Sociedade do Rio Grande foi ao ar como primeira estação de rádio oficial da cidade, iniciativa da Companhia Rio-grandense de Seguros. Tuberculoso, o jovem Ruddy mudou-se para o sanatório de São José dos Campos/SP não mais retornando, a não ser para visitas à familiares. Fixando-se em São Paulo capital, Ruddy construiu a mais brilhante carreira de um rio-grandino na área da Comunicação Social no Brasil. Foi rádio-ator, roteirista, produtor, publicitário e diretor de uma das mais importantes agências de propaganda do mundo: a Lintas, subsidiária da Unilever, Inglaterra. E para confirmar sua genialidade fundou a Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo, a ESPM, dirigindo-a de 1952 a 1972. Primeiro curso superior de publicidade & propaganda da América Latina, a ESPM é, hoje, centro de excelência no País na área da Comunicação Social com filiais em vários estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Sul.

Martensen não foi só o menino prodígio da primeira rádio do Rio Grande e da experiência de colocar som num filme quando isso ainda não havia chegado aqui. Ele foi a mais cintilante figura do País na área da propaganda no século 20, respeitadíssimo publicitário e diretor de agência, professor de profissionais que ainda hoje atuam como José Bonifácio Sobrinho, o Boni, ex-Rede Globo; Roberto Duailibi, da DPZ Propaganda; Petrônio Corrêa, da ex-MPM Propaganda e outros. Ruddy faleceu em São Paulo quando se preparava para conhecer a 3ª Festa do Mar em sua cidade, no ano de 1992.

Relembrá-lo é obrigatório para os rio-grandinos saberem quem foi essa celebridade nacional. Entre nós, ele foi aluno do Lemos Jr., morador do Bolaxa na juventude, apreciador do vinho da Ilha dos Marinheiros e apaixonado por sua velha cidade do Rio Grande.

Que o Museu da Comunicação possa continuar emocionando pessoas, fazendo jus ao nome e à memória de Rodolfo Martensen. E, sobretudo, possa ampliar as atividades museológicas de estudo e pesquisa, para uso gratuito da comunidade e dos estudantes, do ensino fundamental aos cursos superiores.

*Jornalista, fundador do Museu da Comunicação Rodolfo Martensen e seu diretor de 2001 a 2005.

A ESPM

Criada em 1951, a ESPM nasceu de um sonho. Sonho impulsionado pelo momento vivido pelo País. Era época de crescimento econômico e populacional, de investimentos estrangeiros em alta, da euforia do pós-guerra e do surgimento da televisão, entre tantos outros marcos da história social e econômica brasileira.

Em meio a tamanha efervescência, era urgente habilitar profissionais para atuarem no campo da propaganda. Com esse sonho, o escritor e publicitário, Rodolfo Lima Martensen, elaborou o projeto de criação de uma escola, logo apoiado por dois nomes de peso no cenário das artes e do meio empresarial nacional: Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte de São Paulo (Masp), e Assis Chateaubriand, magnata do ramo das comunicações.

“A verdade pura e histórica é que o idealismo, o desprendimento e a coesão dos publicitários transformaram uma simples escola num autêntico centro de cultura.”

Rodolfo Lima Martensen - Fundador da ESPM - in memoriam

Um comentário:

Blog da Biblioteca - ESPM - SP disse...

E para confirmar sua genialidade fundou a Escola Superior de Propaganda e Marketing, de São Paulo, a ESPM, dirigindo-a de 1952 a 1972.