'Eu não queria ficar em casa esperando a morte', diz idosa ao aprender a ler


Aos 87 anos, ela e outros ‘senhores e senhoras’ participaram do Programa Amazonas Alfabetizado.

Manaus - Aprender a ler e a escrever é um direito de todos e é, antes de tudo, um dever da família e do Estado. É baseado nisso que milhares de pessoas há anos vivem na sociedade sem saber ler ou com domínio mínimo da escrita e leitura. São histórias de pessoas que colocaram as necessidades, o trabalho e a família à frente dos estudos.
Desde 2013, pelo menos 10 mil pessoas participaram do Programa Amazonas Alfabetizado no Estado, sendo 800 em Manaus. No último sábado, elas conseguiram realizar o sonho de participar da primeira formatura da turma de alfabetização que significa, antes de tudo, o início de uma nova jornada. O programa é uma parceria da Secretaria de Educação do Estado (Seduc), com o Ministério de Educação (MEC), com o objetivo de diminuir o índice de analfabetos no Estado que, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa 9,8% da população amazonense.
Entre o grupo de novos alfabetizados estão os moradores do bairro São José, zona leste de Manaus, que durante o último ano frequentaram as aulas aos sábados na Associação dos Moradores e Amigos do São José. Ali, são apenas 69 pessoas que, a partir de agora, têm uma nova história para contar.
Aposentada, aos 87 anos, Edna Fleuri da Silva, é a mais velha do grupo e está redescobrindo a leitura. “Eu era gari, amanhecia na rua, logo depois tinha que voltar, nunca tive tempo para me dedicar aos estudos de verdade”, contou.
Hoje, ela é o orgulho da família e fica feliz em saber que já pode escrever os nomes dos netos e bisnetos. “Eu não queria ficar em casa esperando a morte chegar. Eu gosto disso aqui, converso com as pessoas e ocupo meu tempo”, lembrou.
Assim como Edna, Jaci Pedroda Alves, 86, já está ansiosa pelo momento que as aulas vão retornar. “A gente precisa continuar. Eu aprendi as sílabas, a ler devagar e agora eu não quero parar, quero continuar até onde eu puder”, disse ela animada. Jaci lembra com orgulho do tempo que trabalhou na roça, no entanto, sabe que o melhor teria sido se dedicar aos estudos. “Eu não tinha como, mas hoje sei que isso é uma necessidade”, disse.
Jaci e Edna representam a história de muitas outras pessoas que estão tendo a oportunidade de recuperar o tempo.
Dedicação
As aulas na associação são ministradas sempre aos sábados. Começam pela manhã, com direito a café. Todos tem direito ao almoço e depois a merenda. O fim é sempre às 18h.
“Tentamos oferecer o melhor que podemos a elas para que ninguém desista. Aqui atendemos todo o bairro, mas aos sábados tentamos nos dedicar ainda mais a essa causa”, disse a assistente social Marluce Perdigão, presidente do bairro e da associação.
Segundo ela, para o período de 2014, a comunidade receberá o projeto novamente. “Serão cinto turmas de 40 alunos todos os sábados. Quem quiser ainda pode participar”, ressaltou.
Novas turmas
Um total de 26 mil vagas, em 32 municípios do Estado, estão sendo oferecidas no programa Amazonas Alfabetiza para o ano de 2014.
As aulas terão seis meses de duração e devem atender pessoas a partir de 15 anos. A coordenadora do projeto, Roberta Prestes, ressaltou que em Manaus e em toda a região metropolitana serão 106 escolas participando das atividades. “A ideia é atender todas as pessoas que quiserem aprender e não tiveram a oportunidade. Não há limite de idade”.
No interior, 103 escolas municipais e estaduais, além de associações, estão cadastradas.

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