Cassiano Elek Machado | Folha de S. Paulo
Ainda moleque, o americano Matthew Battles estava jogando
beisebol quando acertou a vidraça da biblioteca da cidadezinha onde vivia. Ao
buscar a bola, o garoto de 12 anos encontrou filas e filas de prateleiras
cheias de livros.
Seria possível dizer que Battles e as bibliotecas "viveram felizes para sempre", caso soubéssemos se bibliotecas como a de Petersburg viverão felizes para sempre.
Diretor do laboratório de cultura digital da Universidade
Harvard (EUA), o metaLAB, Battles fez a palestra de abertura do seminário
"Múltiplos e Contemporâneos: A Literatura.com", do Centro Cultural
Banco do Brasil.
A ideia foi debater os desafios da literatura contemporânea
diante das novas tecnologias.
Battles diz que não são poucos. "As novas mídias estão
alterando completamente a maneira como escrevemos e experimentamos a
leitura", diz ele à Folha.
"Um dos maiores efeitos disso é o caráter imediato que
a escrita passou a ter. Pode vir a público, a um grande público, logo após ser
concluída, sem passar por longos processos de edição."
Battles diz não ter dúvida nenhuma de que nunca se escreveu e leu tanto quanto nos tempos atuais. E o que será feito de tanta escrita?
"A efemeridade e o dinamismo da internet são enormes
desafios para a preservação. Como preservaremos fenômenos que aparecem
subitamente, florescem e morrem logo depois?", pergunta.
Autor de um livro chamado "A Conturbada História das
Bibliotecas" (ed. Planeta, 2004), ele começou sua carreira trabalhando
numa das bibliotecas de mais prestígio do mundo, a Widener, de Harvard, onde
guardam as obras raras da instituição.
"Lá aprendi que os meios de escrever e publicar mudaram
de forma radical na história, mas as bibliotecas continuam. O digital não será
uma ameaça", diz Battles, que é consultor da Digital Public Library of
America (www.dp.la), a maior biblioteca digital do mundo (onde bolas de
beisebol não entram).
Nenhum comentário:
Postar um comentário