A internet virou grande aliada do livro

Ao contrário do que se especulava, o mundo digital não matou o livro; ele abriu possibilidades para o mundo literário

Com o avanço da informática, houve quem profetizasse o fim do livro "físico" e defendesse que os e-books - livros em arquivos digitais - fossem tomar o seu lugar. Esta transição se vê pouco hoje. Embora o e-book seja mais consumido a cada dia, ele ainda não chega nem perto das vendas dos livros de papel. A verdade é que a internet e o livro acabaram, de certa forma, sendo aliados. Quem gosta de literatura, encontra na rede muitos sites que tratem deste assunto, seja para o comercializar e-books e livros novos ou usados, promover discussões acerca de algum título, buscar por dicas de compra ou ainda descobrir novos autores.

Assim, a internet faz um papel também de estímulo à leitura entre as pessoas que se interessam pelo assunto. Os e-books, embora digitais, não deixam de ser livros e, por isso, são também importantes para cultivar o hábito da leitura e nem sempre quem compra o livro digital abandona de vez o hábito de ler as edições físicas. "Eu acredito que existe espaço para todos. Assim como o computador não substitui totalmente o papel e o CD não substituiu o vinil, o e-book não substituirá o físico. Há prazer em escutar um vinil, assim como há prazer em folhear as páginas de um livro e isso a tecnologia não substitui", opina Caroline Brüning, psicóloga que tem o costume de ler tanto e-books quanto papel. Após adquirir o hábito de comprar e-books, ela não deixou ir às livrarias para saber sobre os lançamentos e comprar títulos que a interessam. Caroline acredita que existem publicações que você não somente baixa na internet, mas faz questão de ter o produto físico.

Confira todas as possibilidades que o mundo virtual abriu para quem é apaixonado por literatura.

E-books

A psicóloga Caroline Brüning elogia praticidade do e-book, que possibilita ter vários livros em um mesmo lugar sem ocupar espaço ou fazer peso. "Gosto da possibilidade de, assim que encontrar algo que não conheço no livro, já procurar mais sobre aquele tema ou palavra. Gosto de ter tudo ao meu alcance da forma mais prática possível e acho que o e-book oferece isso", comenta. Entre as vantagens, está o preço do e-book, que costuma ser menor do que do livro físico, e ainda a facilidade para carregar. Antes, Carolina costumava carregar dois ou três livros com ela, devido ao costume de ler vários volumes ao mesmo tempo. Agora, isso ficou mais fácil. "Os aplicativos também tem funcionalidades: é possível fazer comentários, ler um livro em grupo, fazer marcações e anotações em grupo de forma interativa. Fazer marcações em um e-book é muito mais limpo e organizado do que em um livro físico e, se eu quiser, posso desfazer sublinhamentos e apagar comentários sem afetar a integridade do livro", acrescenta. Entre os maiores sites de compra de e-books estão o Gato Sabido (www.gatosabido.com.br), a Livraria Saraiva (http://www.livrariasaraiva.com.br/livros-digitais/) e a Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br/ebooks).

A rede social dos livros

Quem gosta de ler sobre livros, procurar novos títulos e conversar sobre literatura encontra uma rede social para tratar somente deste assunto: o Skoob. A rede é brasileira e promove a interação entre leitores de todos os cantos do país. No Skoob, a pessoa pode formar sua estante virtual: adiciona-se o livro, que então é classificado em categorias, como "quero ler", "tenho" e "já li". É possível fazer resenhas sobre os grupos, receber recados, interagir em grupos com o mesmo interesse literário ou ainda ter um perfil "Plus", uma ferramenta criada pela rede para permitir a troca de livros entre os usuários. Além disso, o Skoob costuma sortear entre os usuários livros cortesia dados pelas editoras.

Um sebo virtual

Fazer compras em sebo exige um pouco de paciência para se garimpar entre muitos livros antigos até achar o de sua escolha. Para quem não tem tempo ou apenas não quer ir até o sebo, existe o site Estante Virtual, que reúne 1,3 mil sebos e livreiros de 339 cidades do Brasil. Na hora de procurar o livro desejado, o site busca em sebos de todos os cantos do Brasil. "Em sebo online, a facilidade de encontrar o livro que você deseja é maior. Basta fazer a busca e verificar as opções de preço e conservação. Além disso, o sebo online tem bem mais opções de títulos", afirma a jornalista Gabriela Piske. Ela conta que nunca teve problemas com a entrega de livros que comprou no site e os livros vieram em boa qualidade, conforme estava na descrição do site. É preciso ter alguns cuidados na hora da escola. Gabriela recomenda que a pessoa verifique as informações sobre a conservação do livro e também sobre o vendedor. "Verifique se há depoimentos de quem já comprou, se há bastante opções de livros e acompanhe todo o processo de compra e envio. Se necessário, mantenha contato com o vendedor até tudo dar certo", aconselha.

Blogs

Uma maneira de se manter informado sobre lançamentos e discutir diversos aspectos de livros e estilos literários são os blogs que existem sobre o assunto. Entre eles, estão o Homo Literatus (www.homoliteratus.com), o Literatortura (literatortura.com) e o Literatura de Cabeça (www.litraturadecabeca.com.br). Estes sites costumam fazer resenhas, entrevistas, críticas, podcasts, enfim, abordam diversos aspectos da literatura. Já o Indique um Livro (www.indiqueumlivro.com), é um site apenas de resenhas, em que qualquer pessoa pode mandar a sua indicação. Além disso, algumas editoras também criaram blogs para informar quanto aos seus lançamentos, falar sobre os autores, entre outros assuntos. Este é o caso da Companhia das Letras, que alimenta com frequência seu blog (www.blogdacompanhia.com.br).

Podcasts

Boa parte dos blogs de literatura possui podcasts, programas de áudio em que participantes discutem algum tema relacionado a este assunto. Entre os tantos se destaca o 30:MIN, podcast do blog Homo Literatus que reúne o fundador da página, Vilto Reis, idealizador do blog Literatortura, Gustavo Magnani e a linguista Cecília Garcia. Os assuntos levantados nos posts são interessantes, cheios de informação e tratam de diversos pontos da literatura mundial sempre com humor. Cada podcast tem um nome que informa sobre o assunto a ser discutido. Entre eles, estão "Quebra-quebra das formas literárias", "Os escritores mais barraqueiros da história da literatura", "O grande clássico que eu detestei ler", "Escritores adorados que eu não vejo graça" e "Neve, vodka e literatura russa".

Mais variedade e menores preços

Comprar com um clique e no conforto de casa foi uma das vantagens que a internet trouxe para os consumidores. Dayro Bornhausen, assessor administrativo do Departamento de Cultura e Maestro do Coro Misto Santa Cecília, comenta que compra quase todos os seus livros pela internet. Seus sites preferidos para compras são Submarino, e o das livrarias Saraiva e Cultura. "É mais fácil e a entrega é rápida. Tenho a possibilidade de comparar os preços, procurar promoções e de fazer parcelamento", argumenta. Dayro também compra na Amazon partituras e livros em inglês para o coro, pois dificilmente encontra livros importados de música nas livrarias e sites nacionais. Ele recomenda que a pessoa fique atenta às taxas no momento de comprar livros importados, pois às vezes o livro acabando saindo muito caro devido a elas e passa a não valer mais a pena. Quando for comprar pela internet, preste atenção nos detalhes das informações dos livros. Por exemplo, se a descrição diz "edição condensada", significa que o livro traz um resumo do original e não seu texto integral, e se está descrito como "edição econômica", trata-se de uma edição impressa em papel de qualidade inferior ao livro original, muitas vezes com capa mais mole ou com um design diferente.

Fonte: http://bit.ly/1knZELU

Cai por terra o estereótipo do bibliotecário

O bibliotecário pode atuar como bibliógrafo, biblioteconomista, consultor ou gestor de informação

Figura introvertida, de óculos dá lugar a profissional dinâmico e aberto aos desafios da informação
Figura introvertida, de óculos dá lugar a profissional dinâmico e aberto aos desafios da informação

A profissão de bibliotecário está mais dinâmica e não se resume apenas a visão estereotipada da senhorinha de óculos que fica atrás do balcão, encontrando o livro certo na prateleira certa e pedindo silêncio a todo momento. Embora a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) defina o profissional como sendo um liberal que atua com informação, além de documentalista e analista de informação, a maior parte das pessoas desconhece que a gestão da informação e acompanhamento do dinamismo das fontes fazem parte do escopo do profissional de biblioteconomia.

Unindo a racionalidade e experiência dos bibliotecários com a capacidade de desenvolvimento dos profissionais de TI, softwares abrangentes e facilitadores do processo de pesquisa e seleção de dados, aprimorados para o mercado, mostram que é perfeitamente possível a interação entre a tecnologia e a atividade na área da biblioteconomia.

Bibliotecária há 20 anos, Liliana Giusti Serra atua como profissional da informação em uma empresa de tecnologia, a Prima, responsável pelo software “SophiA Biblioteca”, conta que a profissão acompanha as mudanças da explosão da informação desde outras épocas e não somente como o advento da internet — como a prensa móvel de Gutenberg, em 1439, até chegarmos em 2004, com a criação da web 2.0 que facilitou a produção de informação, impondo ao bibliotecário uma mudança nos critérios de escolha da fonte e confiabilidade da informação. “Com a facilidade de acesso à informação, ele pode recorrer às fontes padronizadas até outros canais abertos e seguros”, explica a bibliotecária.

Segundo Liliana, que está fazendo mestrado em Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação na Universidade de São Paulo, na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), os registros antes disponíveis somente em papel hoje estão acessíveis como documentos on-line, mas essa disponibilidade não substitui o profissional da área de biblioteconomia, que vai atender a necessidade do usuário a partir da seleção e agrupamento do máximo de dados necessários para atender a demanda e no tempo necessário. “A tecnologia deve ser encarada como uma ferramenta que ajuda o bibliotecário em sua atividade, facilitando a descrição do acervo e auxiliando no controle do banco de dados”, diz a bibliotecária. Na visão de Liliana, a tendência das instituições de pesquisa e centros de documentação e memória é o fortalecimento dos acervos híbridos que unem a biblioteca física e digital, meios que se complementam. A tecnologia, segundo ela, entra como um recurso, mas não significa que a informação será usada indiscriminadamente. Compete ao profissional da área filtrar o conteúdo pesquisado.

O uso dos softwares especialmente desenvolvidos para agilizar e facilitar a pesquisa é uma prática cada vez mais adotada pelas instituições. O “SophiA Biblioteca” é uma ferramenta robusta que atende desde o acervo de uma empresa até a demanda da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), com mais de 1,5 milhão de registos no ar. Outros 400 mil estarão disponívis até o final do ano.

Segundo César Antonio Pereira, diretor da Faculdade de Biblioteconomia (FABI) da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o profissional tem excelentes oportunidades no mercado de trabalho, variando desde tradicionais bibliotecas, centros de informação e documentação, a demandas na expansão de instituições de Ensino Superior e de escolas técnicas, escritórios de advocacia, contabilidade e controladoria, ramos que aumentam as oportunidades do bibliotecário, em razão da necessidade de organização de seus materiais. 

Os livros eletrônicos e seu impacto nas bibliotecas

Livro digital

O Observatório do Livro e da Leitura divulgou nesta segunda-feira (14/04) o resultado da pesquisaBibliotecas e Leitura Digital no Brasil, encomendada pela Árvore de Livros S.A. Respondida por bibliotecários e responsáveis por bibliotecas brasileiras, o estudo priorizou as bibliotecas públicas municipais que, segundo a pesquisa estão na quase totalidade dos municípios brasileiros, representando 52,5% das entrevistas realizadas. Participaram ainda da pesquisa bibliotecas comunitárias, universitárias e escolares. Foram entrevistados 503 representantes de bibliotecas de todas as unidades da federação em março de 2014.

Segundo Galeno Amorim, coordenador geral do Observatório, “a pesquisa foi feita para avaliar o estado das bibliotecas que atendem o publico, seja ela municipal, estadual, comunitária, rural, escolar, de universidade e até de empresas e órgãos da administração pública e, com isso, aproveitar para chamar a atenção sobre a necessidade de se criar políticas mais robustas e permanentes de financiamento desses equipamentos que podem ter um papel cada vez mais importante no momento em que a educação parece prestes a ganhar um novo destaque no cenário nacional para construir um novo futuro para o país”.

“O estudo buscou compreender também como as bibliotecas se posicionam e se preparam para entrar na era do livro digital e passar a prestar esse tipo de serviço aos seus leitores e a muitos outros que poderão tornar-se usuários delas também”, acrescentaou Galeno.

De acordo com a pesquisa, os responsáveis pelas bibliotecas identificaram os diversos dispositivos de leitura, incluindo computadores, como sendo apropriados para serem utilizados pelos usuários em seus espaços de leitura. Os tablets, com 53,3%, um índice que chega a 70,5% no caso das escolares, lideram a preferência, mas os computadores aparecem logo em seguida, em situação de empate técnico, com 56,8%, seguido pelos notbooks (53,3%). A pesquisa aponta que embora dedicados especificamente à leitura digital, os eReaders só aparecem em penúltima lugar, com 14,9%, só um pouco à frente dos smartphones (12,2%).

Que tipo (s) de aparelho (s) você considera mais apropriado (s) para os usuários lerem um eBook na sua biblioteca?


Para a maioria absoluta dos bibliotecários e responsáveis pelas bibliotecas brasileiras (77,9%) que atendem diferentes públicos leitores, o tablet é o aparelho mais adequado para os usuários lerem eBooks quando estiverem fora da biblioteca. O notebook aparece como o segundo melhor colocado com 60,5% do total.

O impacto dos eBooks sobre a leitura e as bibliotecas

A pesquisa estimulou os entrevistados a responderem sobre o que acreditam que poderá acontecer com a chegada dos eBooks às bibliotecas. A grande maioria (82% dos que respondera) apontam que os dois tipos de suportes (o livro impresso e o eBook, sua versão digital) deverão conviver juntos em harmonia. No caso das bibliotecas universitárias esse tipo de resposta esteve na boca de 100% entrevistados.

Galeno acredita que este resultado indica que os bibliotecários e os responsáveis pelas bibliotecas estão percebendo que a tecnologia, em vez de representar mais trabalho e dispêndio de energia para eles, pode servir como uma alavanca para a atuação das bibliotecas. “É extraordinariamente importante esse posicionamento dos dirigentes e profissionais da área, que intuem que colocar o pé no futuro pode significar mais usuários, mais leitura e, com isso, certamente maior reconhecimento e apoio. Este ano será marcado pela chegada da era digital às bibliotecas no Brasil. Isso é altamente positivo para gerar leitura, leitores e, sobretudo, maior inclusão cultural e tecnológica na sociedade brasileira”, diz entusiasmado.

O que você acha que poderá acontecer com a chegada de aparelhos e eBooks na sua biblioteca?

Para Moreno Barros, bibliotecário do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colunista da Revista Biblioo, não há dúvida de que os diferentes suportes continuarão a coexistir uma vez que, segundo sua opinião, “bibliotecário não trabalha com suporte, trabalha com conteúdo, documentos e informação, então essa discussão pra gente não faz sentido”. O assunto foi tema de artigo recente de Moreno: “O que os bibliotecários devem saber sobre os ebooks”.
“Por outro lado, temos a responsabilidade da guarda, então é importante que estejamos atentos às mudanças de padrões tecnológicos (a escrita sendo a primeira tecnologia, os ebooks a mais recente)”.

Para Moreno, o que os bibliotecários não podem fazer é argumentar que não estão preparados para a mudança. “Basta entrar em qualquer linha de metrô nas grandes cidades e perceber como as pessoas consomem informação em seus celulares. Basta entrar em qualquer biblioteca universitária e perceber que os alunos estão mais com laptops à tira colo do que livros. Basta visitar qualquer biblioteca pública e perceber que as crianças estão mais interessadas nos computadores do que nos livros, os adultos mais preocupados com o uso de espaço público do que o acervo”.

Na concepção do bibliotecário, quem dita essas transformações é o mercado (tendo os avanços tecnológicos como sustentação) e depois os usuários. Os bibliotecários funcionariam apenas como receptáculo e eventualmente exercendo o papel de intermédio entre criadores e distribuidores de conteúdo.

“Em determinado momento, bastará que uma editora decida comercializar seus livros em formato apenas eletrônico, para toda uma cadeia de distribuição logística ser alterada, simplesmente porque para ela é muito mais barato produzir e comercializar seus livros em formato digital, trabalhando em conjunto com outras empresas tecnológicas que mantêm o monopólio sobre a disseminação do conteúdo”.

Bibliotecários e os eBooks

Chama a atenção na pesquisa do Observatório do Livro e da Leitura a grande expectativa que as bibliotecas vivem em torno da chegada de eBooks para empréstimo. Tá todo mundo bastante interessado em e acreditando que devem atrair com isso atrair mais jovens e adolescentes para perto da leitura. 

Pode vir a representar um fôlego novo para as bibliotecas que, conforme mostrou o estudo, tem uma média anual de investimento – quando tem! – pouca coisa maior do que o ingresso (que não tem mais para vender!) para assistir a final da Copa.     Veja a pesquisa completa.

Fonte: http://bit.ly/1k3hhSD

Biblioburro leva livros aos povoados perdidos da Colômbia

Luis Soriano quis dividir seus livros com as crianças de aldeias sem acesso à leitura.
O colombiano Luis Soriano leva livros às aldeias e povoados nas costas de seus burros, Alfa e Beto

“Se eles não têm biblioteca, temos que inventar uma”. Com essa motivação o colombiano Luis Soriano começou a levar livros aos povoados de seu país onde as crianças não têm acesso a livros. O meio de transporte é a força dos burros Alfa e Beto.
A iniciativa recebeu o nome de Biblioburro, e foi narrada ludicamente pela escritora Jeanette Winter, em um livro ilustrado cheio de cores e imaginação.

A escritora Jeanette Winter relatou a história do Biblioburro


Saiba mais sobre o Biblioburro no vídeo da Comunidad Andina:


    


O prazer e o risco de emprestar um livro

Por que tantos leitores têm medo de compartilhar suas bibliotecas com amigos?

"Empresto até dinheiro, mas não me peça meus livros." Perdi a conta de quantas vezes ouvi amigos repetirem essa frase e muitas de suas variações. Alguns diziam o mesmo sobre os CDs, quando o CD ainda existia. O mundo mudou. As coleções de CDs acumulam poeira e, hoje em dia, é difícil achar alguém que queira pegar um deles emprestado. Para os leitores, a vida mudou pouco. Nunca vi alguém pedir um Kindle emprestado. Mas enquanto tivermos livros impressos - e os temos aos montes -, nos veremos frequentemente diante dessa questão: emprestar ou não emprestar?
A decisão de emprestar um livro é, em sua natureza, um gesto de amor à leitura. O prazer de ler é tão grande que precisamos compartilhá-lo. Nada mais frustrante do que terminar uma história incrível e não ter com quem conversar sobre ela. Emprestar um livro é buscar companhia num mundo em que os leitores, infelizmente, ainda são minoria.
Quem é contra o empréstimo de livros costuma ter um argumento forte para justificar sua postura: por mais que confiemos em quem pediu o livro emprestado, há uma enorme chance de que o livro não seja devolvido. O mundo fora da estante é perigoso. Mesmo ambientes aparentemente seguros escondem armadilhas. Já fui vítima de uma delas. Pouco depois do lançamento de A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan, deixei meu exemplar com um colega de trabalho. Ele gostou tanto do romance quanto eu. Animados com a nossa conversa, outros colegas se interessaram pela obra. O livro passou de mão em mãos eu o perdi de vista. Não posso dizer que o revés foi inesperado. Outros livros tiveram um destino parecido. Continuo a emprestar livros, mesmo correndo o risco de perdê-los. Gosto de saber que meu exemplar de A visita cruel do tempo foi parar nas mãos de um leitor misterioso, em vez de acumular poeira em minha estante.
Como eu, muitos outros leitores ignoram os avisos dos pessimistas e marcham adiante para compartilhar suas leituras. É aí que surge outro risco: tornar-se um emprestador compulsivo. Tenho um amigo com esse problema. Uma vez, lembro-me de ter contado, em minha estante, três livros dele. Um deles foi emprestado antes mesmo que ele terminasse de ler, tamanha sua vontade de compartilhar suas leituras. Não o julgo. Já fui um emprestador compulsivo. Muitos dos livros que desapareceram da minha estante foram livros que eu insisti em emprestar para leitores não muito empolgados. Entre a vergonha de devolver o livro sem lê-lo e a cara de pau de ficar com o livro e jamais tocar no assunto novamente, escolheram a segunda opção. Eu os perdoo. Jamais esperaria que lessem o livro por obrigação.
Entre o egoísmo e o desapego exagerado, há uma terceira via: a troca. Foi a maneira que encontrei para acalmar meu amigo emprestador compulsivo. Numa das vezes em que ele me perguntou se eu já tinha lido as dezenas de livros que ele me emprestara, conversamos sobre um autor que ele não conhecia. No dia seguinte, deixei um livro em cima da mesa dele. A dívida passou a ser mútua, sem riscos de esquecimento. O máximo que pode acontecer é que a troca se torne definitiva - e, mesmo assim, nenhum de nós se sentirá lesado.
Adotei a mesma prática para outros empréstimos de livro. Se alguém me empresta algo, dou um jeito de sugerir uma nova leitura e retribuir o favor imediatamente. Se alguém me pede um livro emprestado, procuro saber se a pessoa tem algum livro que me interesse em sua estante e peço para lê-lo.
Graças à segurança que essas trocas proporcionam, passei a emprestar ainda mais livros, muitas vezes em circunstâncias em que a devolução é improvável. Na semana passada, um amigo embarcou para o Japão sem data para voltar. Levou na bagagem dele meu exemplar de A casa das belas adormecidas, de Yasunari Kawabata. Na minha situação, muitos leitores se desesperariam. Eu estou tranquilo: para compensar a viagem incerta do Kawabata, peguei emprestado um exemplar de Minha querida Sputnik, de Haruki Murakami. Se nos reencontrarmos em alguns anos para destrocar os livros, terei uma boa história para contar – e um argumento irrefutável para convencer quem é contra o empréstimo de livros. Se meu amigo ficar no Japão com o Kawabata, o Murakami me fará companhia, e meu livro terá feito uma bela viagem. Não haverá motivo algum para lamentar a perda. Emprestar um livro é despedir-se dele.

'Eu não queria ficar em casa esperando a morte', diz idosa ao aprender a ler


Aos 87 anos, ela e outros ‘senhores e senhoras’ participaram do Programa Amazonas Alfabetizado.

Manaus - Aprender a ler e a escrever é um direito de todos e é, antes de tudo, um dever da família e do Estado. É baseado nisso que milhares de pessoas há anos vivem na sociedade sem saber ler ou com domínio mínimo da escrita e leitura. São histórias de pessoas que colocaram as necessidades, o trabalho e a família à frente dos estudos.
Desde 2013, pelo menos 10 mil pessoas participaram do Programa Amazonas Alfabetizado no Estado, sendo 800 em Manaus. No último sábado, elas conseguiram realizar o sonho de participar da primeira formatura da turma de alfabetização que significa, antes de tudo, o início de uma nova jornada. O programa é uma parceria da Secretaria de Educação do Estado (Seduc), com o Ministério de Educação (MEC), com o objetivo de diminuir o índice de analfabetos no Estado que, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa 9,8% da população amazonense.
Entre o grupo de novos alfabetizados estão os moradores do bairro São José, zona leste de Manaus, que durante o último ano frequentaram as aulas aos sábados na Associação dos Moradores e Amigos do São José. Ali, são apenas 69 pessoas que, a partir de agora, têm uma nova história para contar.
Aposentada, aos 87 anos, Edna Fleuri da Silva, é a mais velha do grupo e está redescobrindo a leitura. “Eu era gari, amanhecia na rua, logo depois tinha que voltar, nunca tive tempo para me dedicar aos estudos de verdade”, contou.
Hoje, ela é o orgulho da família e fica feliz em saber que já pode escrever os nomes dos netos e bisnetos. “Eu não queria ficar em casa esperando a morte chegar. Eu gosto disso aqui, converso com as pessoas e ocupo meu tempo”, lembrou.
Assim como Edna, Jaci Pedroda Alves, 86, já está ansiosa pelo momento que as aulas vão retornar. “A gente precisa continuar. Eu aprendi as sílabas, a ler devagar e agora eu não quero parar, quero continuar até onde eu puder”, disse ela animada. Jaci lembra com orgulho do tempo que trabalhou na roça, no entanto, sabe que o melhor teria sido se dedicar aos estudos. “Eu não tinha como, mas hoje sei que isso é uma necessidade”, disse.
Jaci e Edna representam a história de muitas outras pessoas que estão tendo a oportunidade de recuperar o tempo.
Dedicação
As aulas na associação são ministradas sempre aos sábados. Começam pela manhã, com direito a café. Todos tem direito ao almoço e depois a merenda. O fim é sempre às 18h.
“Tentamos oferecer o melhor que podemos a elas para que ninguém desista. Aqui atendemos todo o bairro, mas aos sábados tentamos nos dedicar ainda mais a essa causa”, disse a assistente social Marluce Perdigão, presidente do bairro e da associação.
Segundo ela, para o período de 2014, a comunidade receberá o projeto novamente. “Serão cinto turmas de 40 alunos todos os sábados. Quem quiser ainda pode participar”, ressaltou.
Novas turmas
Um total de 26 mil vagas, em 32 municípios do Estado, estão sendo oferecidas no programa Amazonas Alfabetiza para o ano de 2014.
As aulas terão seis meses de duração e devem atender pessoas a partir de 15 anos. A coordenadora do projeto, Roberta Prestes, ressaltou que em Manaus e em toda a região metropolitana serão 106 escolas participando das atividades. “A ideia é atender todas as pessoas que quiserem aprender e não tiveram a oportunidade. Não há limite de idade”.
No interior, 103 escolas municipais e estaduais, além de associações, estão cadastradas.